quinta-feira, 7 de outubro de 2010

INTERVALO COCÔ - MERCIAL

( Dedico a todos os meus sobrinhos, biológicos e "adotados". Para mim, eternas crianças... )


          A história estava no seu auge: as casas dos dois porquinhos preguiçosos já haviam caído e o Lobo estava se preparando para soprar e derrubar a casa do Prático, pois queria comer todos eles. Quase diariamente e pacientemente, a tia contava as aventuras do Lobo Mau e dos Três Porquinhos para o sobrinho de três anos. Nessa faixa de idade, é a favorita das crianças. Como moravam longe uma do outro, o telefone era o meio que compensava a distância que os separava, com direito a fundo musical ( "Eu sou o Lobo Mau, Lobo Mau, Lobo Mau..." ) e efeitos sonoros para as batidas nas portas ( Bam,bam,bam ! ) e o sopro destruidor do temível personagem ( Fuuuuu ! ).

          O interessado ouvinte nem piscava, atento a todos os detalhes. Caso a tia esquecesse algum, ele corrigia prontamente. E ela se perguntava: "Se sabe toda a história, pra que quer que eu conte?" A resposta, já conhecida, era a maneira que toda criança encontrou para ter a atenção da pessoa querida. Além disso, modéstia à parte, era exímia na arte da narrativa oral.

          Foi quando ele pediu que ela parasse porque queria ir ao banheiro. Ela propôs desligar o telefone e, depois, ligar de novo. O garotinho implorava para  não desligar, talvez, com medo de que a tia esquecesse a promessa ou de que os pais cortassem, no ato, a importante conversação. "Telefone custa caro... não é brincadeira... alguém pode ligar..." A contadora de história, diante de tanta insistência, concordou e aguardou no aparelho. Acontece que o guri estava no telefone sem fio e levou-o para o banheiro, colocando-o perto do vaso sanitário. Tia também padece no paraíso. E ouve:

          - Ããããã... Ããããã... ( Ploft! )  Mãe, acabei!

          Terminados os trabalhos fisiológicos e higiênicos, pegou o telefone e avisou à tia que poderia continuar a história. Após ser obrigada a participar daquelas emissões sonoras ( não basta ser tia ), a coitada nem lembrava mais onde estava. Mas ele sim!

          - O Lobo vai para a casa do Prático, vai soprar, não vai conseguir derrubar, vai subir no telhado, vai entrar pela chaminé... Anda, Tia! Conta!

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