( Todo mundo aí tem um segundo time? Não? Pois eu tenho! )
Não, não vou comentar sobre esse já lendário jogo, que foi o assunto da semana, antes, durante e depois da sua realização. Pelos técnicos Luxemburgo e Muricy e jogadores estrelares, pelas jogadas geniais, pelo dilatado placar... Quando soube do resultado, fiquei feliz, como Flamenguista que sou, mas um pouco dividida, porque o Santos é o meu segundo time, o vice do meu coração. Comentei com várias pessoas:
- Poxa! O Flamengo empatou com o Palmeiras, com o Ceará. Não podia ser o contrário? Ganhar deles e empatar com o Santos?
Ontem, fui à praia dar minha caminhada e encontrei o Neguinho, simpático e rubro-negro, que trabalha na barraca em frente ao meu ponto de partida na areia. Vem de casa vestido com a camisa do Flamengo e troca pela camiseta uniforme dos barraqueiros. Sempre puxo conversa com ele, sobre o mar, o nosso time, o tempo. Não sei o nome dele, nem ele o meu. Eu o chamo de "Amigo" e ele me trata por "Senhorita", mesmo sabendo que sou casada. E nosso papo começou, com o assunto óbvio:
- E aí, Amigo, gostou do jogo?
- Claro, Senhorita! Nosso Mengão arrasou!
E eu, com aquele meu pensamento:
- Fiquei feliz, mas um pouco dividida, pois o Santos é o meu segundo time. Desde o Pelé, virou uma paixão. E agora, com Ganso, Neymar...
Ele me interrompeu, com aquele jeito respeitoso, mas fechando o sorriso:
- Senhorita, quando a Senhorita for a São Paulo, a Senhorita torce pelo Santos. Mas aqui, a Senhorita é Flamengo!
Fim de papo! Ou seja, daqui pra frente, torcer pelo Santos, só quando não tiver o Flamengo no meio!
TEXTOS SOBRE OS MAIS DIFERENTES ASSUNTOS,CONTADOS COM HUMOR E SENSIBILIDADE PELA AUTORA.
sábado, 30 de julho de 2011
quarta-feira, 20 de julho de 2011
CARIOQUICE , ESSA DOENÇA PEGA
( Cidade do Rio de Janeiro: as qualidades são muitas e os defeitos também. Mas ser CARIOCA, nascido ou residente, é ser contaminado por uma virose, que não larga mais. )
Nascido e criado no Rio de Janeiro, apesar de viver confinado num apartamento de classe média do Méier, um subúrbio da cidade, Zé era o típico carioca.
Mexia com as moças que passavam na calçada, com a mentalidade de um Vinícius de Moraes: "As muito feias que me desculpem, mas beleza é fundamental.". Se fossem bonitas, dizia "Gostosa!" ; para as menos favorecidas, gritava "Mocreia!". Por influência da família (o casal, Antônio e Marília, e os filhos, Lucas e Isabel), torcia pelo Vasco da Gama, com alma de Bacalhau. Gritava GOL!!! e debochava dos outros times, em dias de vitória, mas se escondia para não aguentar a gozação, na hora da derrota. Quando sentia o cheiro que vinha da churrascaria próxima, pedia:
- Oba! Churrasco, cerveja!
Sabia todos os palavrões e xingava as crianças, que, aliás, adoravam revidar, sem ter de ouvir a bronca das mães. Provocava um bêbado, um coitado que vivia na rua:
- Ô, cachaceiro!
E o melhor é que o infeliz respondia:
- Vai cair daí, rapaz! Ic...
Até ladrão ele já havia enfrentado, lá do alto:
- Pega! Pega! - e o cara fugiu batido.
Conhecia a cidade só de ouvir o que a família e o pessoal da rua contavam: praia, lagoa, escola, shopping, museu, Maracanã, igreja, e, também, sobre favela, rua esburacada, acidente, golpe do telefone, bala perdida. Mas, qualquer que fosse o lado do Rio de Janeiro descrito, cantava "Cidade Maravilhosa" de cor e salteado, que aprendeu com Marlene, a empregada.
Um dia, reparou que a árvore defronte ao prédio havia crescido tanto, que já batia na janela. Começou a subir entre seus galhos e viu que não estava preso. Era a chance de ir embora, conhecer outras pessoas e outros lugares. Bater asas e voar. Mas sentiu um peso que não o deixava partir. Devia ser a corrente com que o mantinham no cativeiro. Olhou e viu que não havia corrente alguma. Os elos que o prendiam eram a família, a comidinha na mão da Marlene, o Vasco, a churrascaria, a cidade que ele conhecia tão bem.
Desceu cuidadosamente e acomodou-se na varanda do apartamento. A corrente que o prendia estava lá, mas sentiu uma leveza tão grande, um aconchego tão bom, que disparou:
- Marília, Antônio, churrasco, gostosa, Lucas, cachaceiro, Isabel, Vasco, pega, pega, Marlene, cerveja, vão tomar no c... !!!
A família se entreolhou e Antônio falou por todos:
- Esse papagaio ficou maluco... Fica quieto, Zé!
Depois de tudo que aconteceu, não podia aceitar apenas isso: Zé. Zé Ninguém? Do alto do seu poleiro, afirmou orgulhosamente:
- Meu nome é Zé Carioca!
Nascido e criado no Rio de Janeiro, apesar de viver confinado num apartamento de classe média do Méier, um subúrbio da cidade, Zé era o típico carioca.
Mexia com as moças que passavam na calçada, com a mentalidade de um Vinícius de Moraes: "As muito feias que me desculpem, mas beleza é fundamental.". Se fossem bonitas, dizia "Gostosa!" ; para as menos favorecidas, gritava "Mocreia!". Por influência da família (o casal, Antônio e Marília, e os filhos, Lucas e Isabel), torcia pelo Vasco da Gama, com alma de Bacalhau. Gritava GOL!!! e debochava dos outros times, em dias de vitória, mas se escondia para não aguentar a gozação, na hora da derrota. Quando sentia o cheiro que vinha da churrascaria próxima, pedia:
- Oba! Churrasco, cerveja!
Sabia todos os palavrões e xingava as crianças, que, aliás, adoravam revidar, sem ter de ouvir a bronca das mães. Provocava um bêbado, um coitado que vivia na rua:
- Ô, cachaceiro!
E o melhor é que o infeliz respondia:
- Vai cair daí, rapaz! Ic...
Até ladrão ele já havia enfrentado, lá do alto:
- Pega! Pega! - e o cara fugiu batido.
Conhecia a cidade só de ouvir o que a família e o pessoal da rua contavam: praia, lagoa, escola, shopping, museu, Maracanã, igreja, e, também, sobre favela, rua esburacada, acidente, golpe do telefone, bala perdida. Mas, qualquer que fosse o lado do Rio de Janeiro descrito, cantava "Cidade Maravilhosa" de cor e salteado, que aprendeu com Marlene, a empregada.
Um dia, reparou que a árvore defronte ao prédio havia crescido tanto, que já batia na janela. Começou a subir entre seus galhos e viu que não estava preso. Era a chance de ir embora, conhecer outras pessoas e outros lugares. Bater asas e voar. Mas sentiu um peso que não o deixava partir. Devia ser a corrente com que o mantinham no cativeiro. Olhou e viu que não havia corrente alguma. Os elos que o prendiam eram a família, a comidinha na mão da Marlene, o Vasco, a churrascaria, a cidade que ele conhecia tão bem.
Desceu cuidadosamente e acomodou-se na varanda do apartamento. A corrente que o prendia estava lá, mas sentiu uma leveza tão grande, um aconchego tão bom, que disparou:
- Marília, Antônio, churrasco, gostosa, Lucas, cachaceiro, Isabel, Vasco, pega, pega, Marlene, cerveja, vão tomar no c... !!!
A família se entreolhou e Antônio falou por todos:
- Esse papagaio ficou maluco... Fica quieto, Zé!
Depois de tudo que aconteceu, não podia aceitar apenas isso: Zé. Zé Ninguém? Do alto do seu poleiro, afirmou orgulhosamente:
- Meu nome é Zé Carioca!
domingo, 10 de julho de 2011
UMA CERTA PÁGINA DA VIDA
( Esta história foi escrita por ocasião da novela "Páginas da Vida", de Manoel Carlos. Tia N. era fanática por novelas, via todas. Ela já faleceu, mas, mesmo assim, não colocarei o nome dela, pois é bem capaz de vir puxar meu pé, de noite... Seu apelido era "Dona Bronca", imaginem! )
Já cheguei à conclusão de que eu sou masoquista. Esta página da minha vida não era para ser contada, era para ser virada. É o famoso "rir para não chorar" e, como eu gosto de sofrer, compartilho a relembrança do acontecido com vocês.
Tia ENE é uma figuraça! Não sou besta de colocar o nome dela, senão serei uma página virada. Ela se acha. Considera-se moderna (apesar da idade), simpática (realmente, tem muitos amigos) e inteligente (isto ela é, mas troca as palavras, como, por exemplo, PERÍNEO, em vez de PERITO; só isso já daria outra página) e outras qualidades mais. Entre essas, destaca-se cozinheira de mão cheia. Tudo que faz é melhor, especialmente em comparação com as irmãs.
Como também se julga uma mulher atualizada, resolveu entrar num curso de culinária, especializado em bolos. Ela reconhecia que estes não eram o seu forte, logo não poderia admitir esta página em branco na sua vida. Ao final, haveria uma festa, com a premiação dos melhores.
No dia previsto, Titia convidou a família inteira para torcer pela sua obra. Alguns foram, inclusive eu. Chegou a hora do julgamento e dez foram selecionados para concorrer ao primeiro lugar. Adivinhem: o bolo dela não entrou nem entre os dez. Acho que, se ela pudesse, teria rasgado todas as páginas do regulamento do concurso. Pois não se fez de rogada: não sei como, sem que ninguém percebesse, surrupiou o bolo mais bonito e o mais cotado para vencer. Pegou o dito cujo e entregou para mim. Na hora, eu estava sozinha, guardando os lugares na nossa mesa, pois o resto da família tinha ido comprar bebida.
- Toma! Segura isso aí.
- Tia, que bolo é este? - eu vi que não era o dela.
- Segura, segura!
E se mandou. Fiquei lá, sozinha, segurando...
Dali a pouco, vem uma mulher furiosa, com várias pessoas atrás, justo na minha direção:
- Meu bolo! O meu bolo! - gritava.
Aí, eu entendi tudo, mas, como não tenho nenhuma presença de espírito, não conseguia esboçar reação. Comecei a tremer, a voz não saía. E já me via na primeira página dos jornais, como ladra de bolo.
- O que você está fazendo com o meu bolo? - berrava a boleira, apoiada pelo olhar de reprovação de todos na festa.
Quando eu ia começar a gaguejar, chega minha tia, na maior calma:
- O que foi? O que foi?
- Ela está com o meu bolo premiado! - esganiçava a vencedora (é, o bolo dela ganhou!).
E agora? Havia alguma coisa para se fazer ou dizer? Havia e ela fez e disse:
- Ah, bem que eu falei para a minha sobrinha aí que aquela mulher gorda que pediu para a gente guardar o bolo dela, era muito estranha. Falei, falei e falei para a minha sobrinha não guardar, mas ela teimou, quis ser gentil. Viu só?
A dona do bolo mudou da água para o vinho. Além de se acalmar, abraçou e beijou Titia, toda agradecida, e ainda deu metade do bolo para ela.
E, como última página de tudo, a pobre de mim ficou como a boba da história e ainda teve que ouvir dela:
- Frouxa!
Já cheguei à conclusão de que eu sou masoquista. Esta página da minha vida não era para ser contada, era para ser virada. É o famoso "rir para não chorar" e, como eu gosto de sofrer, compartilho a relembrança do acontecido com vocês.
Tia ENE é uma figuraça! Não sou besta de colocar o nome dela, senão serei uma página virada. Ela se acha. Considera-se moderna (apesar da idade), simpática (realmente, tem muitos amigos) e inteligente (isto ela é, mas troca as palavras, como, por exemplo, PERÍNEO, em vez de PERITO; só isso já daria outra página) e outras qualidades mais. Entre essas, destaca-se cozinheira de mão cheia. Tudo que faz é melhor, especialmente em comparação com as irmãs.
Como também se julga uma mulher atualizada, resolveu entrar num curso de culinária, especializado em bolos. Ela reconhecia que estes não eram o seu forte, logo não poderia admitir esta página em branco na sua vida. Ao final, haveria uma festa, com a premiação dos melhores.
No dia previsto, Titia convidou a família inteira para torcer pela sua obra. Alguns foram, inclusive eu. Chegou a hora do julgamento e dez foram selecionados para concorrer ao primeiro lugar. Adivinhem: o bolo dela não entrou nem entre os dez. Acho que, se ela pudesse, teria rasgado todas as páginas do regulamento do concurso. Pois não se fez de rogada: não sei como, sem que ninguém percebesse, surrupiou o bolo mais bonito e o mais cotado para vencer. Pegou o dito cujo e entregou para mim. Na hora, eu estava sozinha, guardando os lugares na nossa mesa, pois o resto da família tinha ido comprar bebida.
- Toma! Segura isso aí.
- Tia, que bolo é este? - eu vi que não era o dela.
- Segura, segura!
E se mandou. Fiquei lá, sozinha, segurando...
Dali a pouco, vem uma mulher furiosa, com várias pessoas atrás, justo na minha direção:
- Meu bolo! O meu bolo! - gritava.
Aí, eu entendi tudo, mas, como não tenho nenhuma presença de espírito, não conseguia esboçar reação. Comecei a tremer, a voz não saía. E já me via na primeira página dos jornais, como ladra de bolo.
- O que você está fazendo com o meu bolo? - berrava a boleira, apoiada pelo olhar de reprovação de todos na festa.
Quando eu ia começar a gaguejar, chega minha tia, na maior calma:
- O que foi? O que foi?
- Ela está com o meu bolo premiado! - esganiçava a vencedora (é, o bolo dela ganhou!).
E agora? Havia alguma coisa para se fazer ou dizer? Havia e ela fez e disse:
- Ah, bem que eu falei para a minha sobrinha aí que aquela mulher gorda que pediu para a gente guardar o bolo dela, era muito estranha. Falei, falei e falei para a minha sobrinha não guardar, mas ela teimou, quis ser gentil. Viu só?
A dona do bolo mudou da água para o vinho. Além de se acalmar, abraçou e beijou Titia, toda agradecida, e ainda deu metade do bolo para ela.
E, como última página de tudo, a pobre de mim ficou como a boba da história e ainda teve que ouvir dela:
- Frouxa!
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