segunda-feira, 13 de agosto de 2012

GINA É UM GÊNIO

( CASAMENTO combina com FUTEBOL? Quantas brigas, quantas separações por causa dessa mistura explosiva! Será que esse vai dar certo? )

          Duplamente gênio, nos dois sentidos. No figurado, porque é muito esperta e inteligente; e, literalmente, é um gênio de verdade. Mas é segredo, ninguém sabe. Nem o marido, com quem vive há mais de trinta anos.

          Foi por essa ocasião que ele, inocentemente, ao achar uma garrafa de cerveja fechada, esquecida na calçada do prédio, esfregou-a radiante. De graça, até injeção na veia! Lembra-se de que a tampinha pulou longe, saiu uma espuma danada e, depois disso, ter encontrado a linda mulher da sua vida. O motivo de ter sido escolhido por ela para ser seu "amo", não dá para entender. Baixinho, gordinho, feinho, mas, geniosa como ela só, papo vai, papo vem, no mesmo dia, aboletou-se na casa dele.

          Aliás, essa longevidade do casamento desperta a curiosidade da homarada e a inveja, por que não dizer, do mulherio, na vizinhança do condomínio onde moram. Não tanto pela duração, mas pela qualidade da união. O cara sai de casa apenas para trabalhar ou na companhia dela (sonho de quase toda mulher).

          Nos primeiros anos, como na maioria dos matrimônios, ela não precisou usar seus poderes: tempo da paixonite aguda. Quando esse tempo acaba e entram a rotina e a monotonia, é preciso ser mágico! E ela, como todo gênio que se preze, começou a fazer das suas.

          Para combater as vontades típicas do mundo masculino, de encontrar os amigos, jogar uma pelada, tomar umas e outras e ir ao Maracanã (agora, Engenhão), Gina teve uma ideia luminosa. Matou quatro coelhos de uma única cajadada. Sempre que ele manifestava esses desejos, que para ela não eram uma ordem, movimentava o nariz para os lados. Não, não! Isso é com a amiga Samanta, a feiticeira. Num piscar de olhos, transformava-se em Laércio, vulgo "Chinelão", amigão dele. Na primeira vez em que apareceu, justo na hora em que ele ia sair para dar uns bordejos, estranhou um pouco, não se recordava desse amigo. Mas como, como poderia ter esquecido um cara com a bandeira do Fluminense, uma barriga de respeito embaixo da camisa tricolor, com pacotes de aperitivos tentadores numa das mãos e um isopor com "louras" geladíssimas na outra? Devia estar de porre!

          Viraram amigos de infância! Nem notou que a mulher, nessas ocasiões, sumia. E que papo: futebol, política, futebol, automóvel, futebol, mulher, futebol... E ainda ouvia, pacientemente, quando ele se queixava da Gina. Não tinha do que reclamar da "patroa", mas aí não tem graça. Coincidentemente, toda vez que o Chinelão aparecia, numa época em que não havia "pay per view", o jogo mais importante passava na televisão, como num passe de mágica. Nos intervalos, repetiam (tentavam, claro!) as melhores jogadas e lances, em plena sala, quebrando enfeites, sujando paredes e arranhando móveis.

          E, finalmente, altas horas, quando conversaram, comeram, beberam e assistiram a tudo a que tinham direito (inclusive, todas, todas as mesas-redondas sobre futebol), o amigo se despede, prometendo voltar na semana seguinte. Então, ele percebe que abusou, ao ver a mulher sair de uma das garrafas vazias, numa camisola sexy com as cores e o escudo do Fluzão, com o mesmo corpo e a mesma cara de quando se conheceram ( devem ser os cosméticos modernos, dizem que fazem milagres), cheia de amor pra dar. Esfrega os olhos, acha que está sonhando, mas é melhor deixar pra lá. Talvez, efeito do sono e da bebida. Está tudo tão bom, tem tudo de que precisa, portanto, direto para a cama e para o amor. Antes, promete levá-la, no dia seguinte, ao shopping e ao cinema, com jantar em restaurante incluído.

          Pra que gastar em botequim? Pra que se despencar até o estádio, encarar engarrafamento, multidão? Pra que suar e se machucar na pelada, no meio de um bando de pernas de pau? Pra que mais amigos, se já tem o melhor? Não se mexe em time que está ganhando há tanto tempo. E o encantamento de mais de mil e uma noites? Vai durar até quando? Até que a morte (dele) os separe! Genial, não?

( Quanto sacrifício a gente faz por um texto e um Blog! Para publicar esta história no seu Blog www.oglobo.com/blogs/pelada, no dia 19/08, Sergio Pugliese me pediu uma foto. Como foi uma homenagem aos Tricolores, eu, FLAMENGUISTA, tive que segurar (iiirrrc!) a camisa do Fluminense. Mas valeu! )