( Anos 80, história verdadeira! Até que tem lógica...)
Milhares de paetês, miçangas e pérolas bordados em metros de cetim, renda e forro. Horas de provas na costureira, careira como ela só e que morava onde Judas perdeu as botas. Tudo isso para usar uma vez e ficar guardado no armário?
Solange olhava para o vestido de madrinha de casamento do irmão e não se conformava com o desperdício de trabalho, tempo e dinheiro. Não tinha casamento nenhum em vista e sabia que, em breve, a moda o condenaria à morte: brega, out, démodé !!! Vender ou reformar? Dava pena se desfazer ou mexer naquela obra de arte. Fazer o quê?
Foi quando teve a brilhante ideia. Por que não?
Todo sábado, ia com o marido jantar fora nos restaurantes do bairro. Roupas bem informais: vestido, calça ou saia com blusinha para ela, jeans ou bermuda com camiseta para ele. Nesse dia, já pronto para sair, ouviu-a dizer:
- Antônio Carlos, bota o terno!
Achou que tinha escutado mal, mas, quando a viu toda maquiada e penteada, de salto alto e com o vestido acima citado, concluiu que não:
- Tá maluca, Solange? Vai aonde?
- Vou, não, vamos ao "Só Na Massa"! Todos pensarão que nós chegamos de um casamento que não teve festa. Quem vai saber? Desse jeito, usarei o meu vestido. Bota o terno!
Resmungando (afinal, usava terno a semana inteira), fez a vontade dela. E assim foi quase todo fim de semana. Depois dos restaurantes da redondeza, entrada triunfal do "casal de padrinhos", sob os olhares inocentes dos garçons e fregueses, nos dos bairros próximos e até alguns desconhecidos. Só faltaram os violinos.
Foi o vestido mais usado da face da Terra!