quinta-feira, 29 de julho de 2021

OU EU OU ELAS!

 (Não se trata de um ultimato de fidelidade amorosa. Seria mais "Ou Elas ou Eu!" porque eram as verdadeiras protagonistas dos realistas filmes de terror da minha vida.)


          Minha mãe dizia que até a idade de dois anos eu era uma cockroachs killer ou, como se diz aqui, uma caçadora de baratas.

          _ Regina, pega aqui!

          E, calmamente, eu pisava nelas, orgulhosa e inocente. Depois, minha tia e madrinha me traumatizou. Estávamos as duas no banheiro e apareceu uma. Já estava preparando o meu pezinho para liquidá-la, quando Dindinha começou a berrar. Parei no mesmo instante e acompanhei-a na gritaria. A partir desse dia, a matadora de baratas se foi. Psicólogos, me ajudem: trauma de infância! Mamãe ficou furiosa com a irmã e, anos mais tarde, me contou que ela deu um vexame engraçadíssimo, na época do namoro dos meus pais. O casal estava na varanda da casa. "Vigiado" pela futura cunhada, papai estava sentado numa cadeira de balanço, ao lado da mamãe. De repente, surgiu uma da espécie. Desesperada, ela agarrou a cadeira por trás e subiu nos pés traseiros, deixando o coitado literalmente de pernas para o ar.

          _ Mata, Jair, mata! - ela berrava.

          _ Geny, sai daí! Como ele pode matar assim? - Mamãe zangava.

          _ Geny, me solta! E devagar. - Papai implorava, para não ser arremessado pelo movimento brusco.

          Felizmente, terminou tudo bem, menos para a barata. Herdei o medo dela, lidando com as nojentas e monstruosas através de gritos, fugas e pedidos de socorro. Mas a vida apronta e tive que encarar várias situações aterrorizantes. Uma delas subindo pela minha perna, por causa da grande abertura da calça boca-de-sino, me fez sacudir a perna e berrar como louca, deixando meu tio, que conversava comigo, sem saber o que fazer. Convulsão? Surtou? Outra pousando na minha testa, quando estava quase dormindo, me obrigou a gritar e varejar o lençol com o rádio de pilha em cima, quase quebrando-o e matando o marido do coração.

          Além da vergonha, sentia-me incapaz de agir e resolver. Nada como um dia após o outro. Estava sozinha e o marido avisou que chegaria tarde, por causa do trabalho (pelo menos, eu acreditei...). Não deu outra: apareceu uma, enquanto eu via televisão. A hora era bem avançada e fiquei sem coragem de chamar um vizinho. Meu prédio pequeno não tinha porteiro. Então, era eu ou ela! Ela ou eu! Peguei vassoura, chinelo e inseticida, pronta para a guerra. Empurra sofá, vassourada; tira a cadeira, borrifada; puxa a mesa, chinelada. Depois de meia hora, consegui! Fiquei tão feliz e aliviada que fui dormir e deixei a sala como estava. O marido, quando chegou, achou que tínhamos sido assaltados, porém, ao ver o cadáver, imaginou o que aconteceu.

          Os ermitões estão certos: a solidão é o melhor remédio para ficar frente a frente com seus temores. Depois disso, assassino elas numa boa. Nem tanto, confesso. Jogo um bom inseticida o mais distante que eu puder. Depois de pisar, ainda me arrepio com o barulho do corpo e asas se partindo. E se alguém quiser me substituir nessa árdua tarefa, cedo a vez prontamente. É meu convidado de honra!