domingo, 10 de junho de 2012

CENAS DE UM CASAMENTO

( Casamento é um desejo de muitos. Santo Antônio, o santo casamenteiro, é celebrado no dia 13 de junho. Tudo a ver, certo? E se, no grande dia, tudo dá errado? )

          Se alguém é contra esta união, que fale agora ou se cale para sempre. Tudo, tudo parecia ser CONTRA. Começou antes da cerimônia religiosa: o carro da noiva enguiçou na esquina da igreja, após vir peidando e dando solavancos o caminho todo. Já viram noiva entrar empurrada? Pois essa entrou, com a ajuda de convidados prestativos, e o veículo sacudindo e bufando, como se a gasolina tivesse sido substituída por suco de repolho.

          Chegou, finalmente! Deu o braço para o pai, mas teve que esperar um pouco porque o coroa, tomado pela emoção, havia tomado uns gorós e vomitou na calçada mesmo. Entrada triunfal pelo tapete vermelho, não sem notar que a daminha estava coçando a bunda e o pajem tirando uma difícil meleca. Nem adiantava chamar a atenção deles, pois o coral, para se exibir, não cantava, berrava a marcha nupcial.

          No altar, o pai passou-a para o noivo, que estava todo sorridente, com um enorme pedaço de feijão agarrado no dente. Ela conseguiu tirar, disfarçando um carinho no rosto dele. Reparou que, depois de tanto combinar, duas madrinhas estavam com vestidos idênticos, mas de cores diferentes. Soube, mais tarde, que compraram na mesma loja.

          Mas vamos à cerimônia! O padre era um velhinho bem caquético, que trocava o nome deles e esquecia que estava com o microfone ligado, pigarreando, escatologicamente, um insistente muco lá das profundezas, em alto e bom som. O sermão era entrecortado pelos soluços da mãe do noivo, em prantos no seu vestido azul marinho tão escuro, que parecia traje de luto. De repente, o padrinho e amigo do noivo desmaiou. Para tudo... abana o rapaz... melhorou... O que houve? Na festa, saberemos. Troca de alianças, casados, enfim! O fotógrafo, ao preparar o melhor ângulo, tropeçou no fio e derrubou a imagem de Santo Antônio. Logo o casamenteiro...

          Agora é festa! Foi no salão da igreja, com música, dança, comida e bebida. Mal acabaram de colocar as travessas na mesa, os garções quase foram pisoteados por uma multidão enlouquecida e esfomeada, com direito à guerra de cotovelo para pegar o melhor pedaço. Os nubentes, coitados, nada! E beija e tira foto e cumprimenta... A noiva conseguiu um espelho para se retocar e achou que estava olhando para um urso panda: a tão recomendada maquiadora usou uma sombra escura para "realçar o olhar", porém eram olhos de quem levou um soco. Por falar em soco, dois primos dela resolveram suas diferenças ali mesmo e partiram para as vias de fato. Isso é bebida, diziam uns. Rolaram no chão, enquanto a mãe do noivo, no seu vestido enlutado, gritava que tinha perdido o filho para "aquela família". É a bebida, justificavam.

          Para completar o barraco, o tal padrinho do desmaio chamou a noiva para dançar e agarrando-a, visivelmente excitado, ofereceu-se para fazer o divórcio dela, pois era advogado e mui amigo. É a bebida?

          A bebida acabou e tiveram que servir água da bica, por ordem do pai da noiva. "Olha a Lindoia! Água mineral!" Quase acabaram com a caixa d'água. E a recepção terminou com uma fila quilométrica nos banheiros: para variar, a maionese, tal e qual o mordomo, é sempre a culpada.

          Isso aconteceu há mais de trinta anos. E a união, acabou? Que nada, estão bem casados até hoje. Quando atravessam alguma crise conjugal, lembram que, depois de tudo que passaram e aconteceu nesse dia, nada mais os separa!