terça-feira, 30 de novembro de 2010

A PROVA

( Final de ano, para estudantes de qualquer nível, lembra teste, vestibular, monografia. Tem que PROVAR que aprendeu. O caso aqui é tão sério, que a própria resolveu se manifestar. )


          Pronto. O sinal bateu. Pode me virar ( com todo o respeito ) e começar a fazer.

          Quem é você? Ah, Fulano, turma 803. Será que você estudou? Não estou difícil, não. Eu e minhas companheiras estamos disputando para ver quem tira a maior nota. Capricha aí, meu garoto!

          Ei, não fica parado, que cara de pastel é essa? Olha o tempo, você só tem cinquenta minutos e já se passaram dez. Vai fazer sem ler o texto? Prova de Português? Bom, tudo é possível. Pelo amor de Deus, o antônimo de "pobre-diabo" não é "anjo rico" e nem "duna é morro que anda" . Pare de encarar o teto! "Porque sim" não é resposta. Em branco? Tente alguma coisa, embrome, pelo menos. Só que falar sobre a chuva não é dizer que "é uma nuvem mijando nas nossas cabeças" . Risca isso, sua anta, apaga, anula!

          O que é isso? Vai tentar colar? Essa mulher é uma fera, parece um cão perdigueiro. E tem mais, você é fila B e essa nerdzinha do seu lado é fila A. Não está vendo que não tem lógica, animal? Os textos e as perguntas são diferentes. Além de responder errado, a professora vai perceber que você colou.

          Ah, tá rezando? Os santos devem estar se escondendo para não ter que gastar milagres com você, infeliz. Opa! Acho que a reza funcionou, está saindo alguma coisa: espera aí, "sujeito" não se escreve com g e cadê o i ? Santa ignorância!

          Estou perdida! Ele já vai me entregar e será o primeiro. Precisam ver a calma e a cara de felicidade. Os outros alunos da turma continuam escrevendo, com toda a concentração. Eu tinha que cair logo com esse moleque burro? Sei que as minhas amigas vão tripudiar, vou levar zero e toda a bronca da professora, em rabiscos vermelhos de raiva. Sem contar a assinatura do responsável por esse irresponsável, com toda a força da caneta aplicada em mim, para descontar a frustração.

          É claro que o meu destino também não será igual ao das outras, guardadas numa gaveta como recordação desta fase escolar. Amassada, rasgada e jogada na sarjeta... Lixo, és a minha sina! 

domingo, 21 de novembro de 2010

OBS . :

( Haja fé, haja reza, haja pensamento positivo!!! E a luta continua...)




          Hoje, resolvi sossegar o facho e parar para observar alguma coisa. Dizem que é bom fazer isso de vez em quando. A pessoa se desliga dos seus próprios problemas e tem mais consciência do que ocorre à sua volta. Fui para a varanda do meu apartamento, sentei e comecei a olhar aquela vista privilegiada. Qual seria o alvo da minha observação? O mar, as montanhas, flores, carros e pessoas desfilavam diante de mim. Escolho o quê?

          Repentinamente, foquei em algo. Não, isso não! Tentei desviar a atenção, mas não consegui. Era, simplesmente, um urubu! Pousado na caixa d' água de um prédio próximo, aquele animal feio e agourento predominou entre tantas coisas bonitas para se notar.

          Aí, não teve jeito, os pensamentos ruins logo chegaram. Urubu é sinal de carniça, morte. Será alguém do prédio? É, mas eu é que estou olhando para ele. Mangalô três vezes! Pode ser azar, com a perda de emprego ou de algum bem material. Desconjuro! Haverá alguma violência, em assalto ou acidente? Cruz credo!

          Tento pensar no lado bom. Morte traz a paz eterna. As perdas obrigam as pessoas a rever seus valores. A violência ocasiona a revolta para mudar o que está estabelecido. Não adianta, só tenho olhos para aquele bicho mal-encarado desgraçado.

          Ah, até que enfim! Lembrei que ele é uma ave como outra qualquer, que vai voar num instante pelo lindo céu azul. Nada. Continua lá, paradão. Monstro! Além do mais, notei que ele está olhando na minha direção. Está me observando, também. Isso foi demais para mim. Ser observada por um urubu é o fim. Chega de observações!

          Resolvi entrar e assistir a um programa bem leve na tevê. Estava terminando o jogo de futebol e o meu Mengão ganhou. Era isso! O símbolo do Flamengo é o Urubu. Aquele bichinho lindo trouxe sorte para o meu time. Corri para a varanda, procurando aquela bela plumagem negra. Pensando bem, eu nem tinha reparado na imponência daquele exemplar da espécie. Mas, ele não estava mais.

          Urubuzinho, fico lhe devendo essa.

          Volte sempre!

( Obs.: Não digitei o título de novo, não! É uma observação mesmo: este texto também foi publicado no blog do jornal O Globo, " A Pelada Como Ela É ", do Sergio Pugliese. Foi no domingo, dia 28/11. Quem quiser conferir, é só clicar aqui: www.oglobo.globo.com/blogs/pelada )

sábado, 13 de novembro de 2010

OS ANTI - PROPAGANDA

( Vocês poderão reconhecer alguém que faz parte da sua vida. Ou, se a carapuça servir... )


          A primeira vez em que eu ouvi falar desses tipos foi há muito tempo ( e bota tempo nisso! ), quando eu estava no antigo ginásio. Era a aula de Educação Física e a professora ordenava a plenos pulmões:

          - Vamos, meninas, mexam-se! Esquerda, direita!

          Olhamos as pernas dela: pareciam dois potes de gelatina com pedaços de frutas, flácidas e cheias de celulite. Foi aí que uma colega virou-se e disse:

          - Ela é um caso típico de anti-propaganda.

          É a pessoa que hoje se pode chamar, também, de propaganda enganosa. Já fui a um cardiologista que me recebeu, no consultório, fumando. Quem não sabe que cigarro faz mal à saúde? Só ele! Num posto de saúde, a nutricionista pesava mais de cem quilos. Vai ver que a dieta dela é "Mais é menos". Vi uma esteticista, em um programa de televisão, com a pele horrorosa, enrugada. Que tal um bom tratamento ( com outra profissional, é claro ) ? Sem falar na psicóloga que, quando se via diante de um problema pessoal, recorria à chantagem emocional, com crises histéricas de choro. E não conseguia resolvê-lo.

          Geralmente, ditam regras e conselhos com a maior autoridade, cheios de moral. Instalam o terror na cabeça dos outros, falando das consequências de atos e hábitos inadequados. E, se alguém reclamar ou argumentar o mau exemplo deles, com certeza dirão:

          - Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço. Isso é para o seu bem.

          BEM bom mesmo é gravar essas figuras inesquecíveis na nossa memória. Porque, quando se pensar em procurar algum profissional, o subconsciente dirá:

          - Esse não, esquece!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

VERDADE PROIBIDA

( O mês começou com o Dia de Finados. É pouco para lembrar nossas pessoas queridas que já partiram desta para melhor, creio eu. Pode-se ou não acreditar numa vida depois da morte, mas, se existe, que esse "nosso lar" seja bem humorado, assim como esta história. )


          - Anjo, o que é desta vez? As filas estão imensas.

          - Meu São Pedro, uma senhora quer lhe falar. Ela critica o critério de entrada no céu, por ordem de idade.

          - Que mal eu fiz a Deus? Tá, manda ela vir aqui. ( Uma mulher com idade avançada se aproxima. ) Minha senhora, qual é o problema? Há milênios que é assim, por idade.

          - Ô meu santinho, por favor, não fale essa palavra! ( Benze-se três vezes. )

          - Existe um julgamento divino. Deixa eu explicar: bebês e crianças entram primeiro porque não têm pecado. Depois, os jovens, os adultos e, por último, os idosos, que viveram mais e, normalmente, pecaram mais.

          - Não concordo, São Pedro. Pra que todo mundo aqui ficar sabendo quantos anos eu tenho? Assunto mais desagradável! Quando estava viva, quase tudo exigia ano de nascimento. Parece até que a gente tem um prazo de validade. Mude para ordem alfabética.

          - Mas seu nome é Abigail. Você será das primeiras a entrar e não terá muito tempo para preparar sua defesa. Poderá ir para o inferno.

          - Inferno eu já vivi na Terra para esconder a ( benze-se ) idade. Um amigo, numa festa, lembrou, em voz alta, que tínhamos ido à inauguração do Maracanã, em 1 950. Numa excursão de ônibus, o guia fez as apresentações das pessoas do grupo, acrescentando a data de nascimento completa. Isso no microfone! Antes que ele falasse a minha, ameacei saltar no meio da estrada. E o meu neto? Ao responder que eu tinha trinta e sete anos, disse que era impossível, pois o pai dele, meu filho, tinha quarenta. Que falta de assunto!

          - Abigail, agora você morreu. Pare com essa bobagem!

          - O senhor acredita que, até na morte, eu sofri? No velório, o padre repetiu três vezes a minha ( benze-se ) idade. Posso voltar só um pouquinho para assombrar o sono dele?

          - Não se preocupe mais com isso. Deus sabe de tudo. Você poderá perder pontos com Ele, se começar sua vida eterna com uma mentira, que é pecado.

          - São Pedro, eu já paguei meus pecados. Aguentei horas em filas para não ser atendida nos guichês especiais. Paguei ônibus sem precisar, inteira nos cinemas e teatros. Atrasei a minha aposentadoria, pois adulterei a minha carteira de identidade. Pode deixar. Com Deus, eu me entendo.

          - Mas Ele sabe que você nasceu em 1 9...

          - Para! Para! Perdão, São Pedro, mas antes de ser santo, o senhor é um cavalheiro e sabe que não se deve comentar isso com uma dama.

          - Será que eu joguei pedra na cruz? E o Antônio diz que inveja  meu trabalho. Alega que dá um duro danado para arranjar casamentos, enquanto eu só abro e fecho as portas do céu. Leve a  Abigail, anjo. Quero ver como Ele vai se sair dessa. Vai para o céu ou não vai?

          Algum tempo depois:

          - São Pedro! São Pedro!

          - Conta, anjo, conta!

          - Dona Abigail foi direto para o céu. Conseguiu uma audiência privada com Deus.

          - Mas como? Às vezes, até para mim é difícil.

          - Ela entrou na sala, perguntando qual a idade dEle e que, como Deus, não poderia mentir. Ele pigarreou, mandou que eu saísse e fechasse a porta. O que conversaram, ninguém sabe, pois foi a portas fechadas. Céu sem escalas para ela! Ah, e tem mais, Ele falou para o senhor parar com essa conversa de idade.

          Assunto encerrado!