domingo, 27 de março de 2011

SAUDOSA MEMÓRIA

( Quando fiz este poema, pensei ouvir o som de violão, pandeiro, cuíca... Acho que pode dar Samba. Atenção, compositores!!! Alguém se habilita a ser meu parceiro? )

          Tudo aquilo que lembramos
          É o que se chama memória.
          O que aconteceu poderá
          Um dia virar história.

          Coisas simples ou complicadas,
          Sentir alegria ou tristeza,
          Perdas ou ganhos, na vida,
          Têm seu valor, sua beleza.

          A casa onde viveram
          As pessoas da família,
          Com livros, bichos e plantas,
          Em seu próprio dia-a-dia.

          Amigos, escola, professores,
          Lojas, brinquedos, vizinhança,
          Cada um formará o adulto
          Que um dia já foi criança.

          Guarde com muito cuidado
          Toda a sua experiência.
          Saudade não tem validade
          E recordar é vivência.

domingo, 20 de março de 2011

DOMINGO

( Dia de Domingo: descanso, diversão, despesas... Diferente dos demais? )

          Hoje é Domingo, pé de cachimbo!

          Pode ser, também, como dizem as canções, dia de pagode na casa do Vavá, de viver o amor e a traição no parque, de ver o mais querido no Maracanã ( como está fechado, tem que ser no Engenhão ). Pode não ter coisa alguma para fazer, numa chuva interminável, ou pode dar praia, iluminada pelo Cauê ( é o solzinho símbolo do PAN no Rio de Janeiro, já esqueceram? ). É de praxe o almoço com a família, mas vale se isolar do mundo, quem não se chama Raimundo.

          Uma vez por ano, em maio e agosto, filhos podem limpar a barra com a mãe e com o pai. Os chocólatras podem se fartar de ovos e bombons, com as bênçãos do Coelhinho da Páscoa. E todos podem se acabar no Domingo de Carnaval.

          Para o Faustão, é Domingão. Para quem toca acordeão, é Dominguinhos.

          Imprensado entre as lembranças do Sábado e a perspectiva das coisas para fazer na Segunda-feira, entre o passado e o futuro, o Domingo é um presente dos deuses ansiosamente esperado para uns e de grego para outros. Apesar da lei divina, pois até Deus descansou depois de criar o Universo, muitos trabalham nesse dia. Mas até o trabalho fica diferente dos demais dias da semana.

          Os acontecimentos da nossa vida ficam mais marcados na memória. O coração do meu velho obrigou-o a cair fora deste planeta, dizendo "Fui!" e deixando uma saudade eterna na presença desse dia. Em compensação, foi também num Domingo que um dos meus sobrinhos chegou a este mesmo mundo, dizendo "Tô na área!" e alegrando toda a galera familiar.

          Mais um Domingo... É complicado entendê-lo, tão cheio de contrastes e particularidades. Uns gostam, outros não. Nada lhe tira a peculiaridade. Entretanto, só há uma certeza: semana que vem, tem mais.

domingo, 13 de março de 2011

PONTO DE VISTA SOB A ÓTICA DO CARNAVAL

( O Carnaval acabou. Amor de Carnaval acaba na 4ª feira de Cinzas ou dura? Depende da VISÃO de cada um. )

          Tudo começou num baile, sábado de Carnaval. Anos sessenta, clube de subúrbio carioca ( Água Santa ), não se falava em lente de contato. Muito míope, quando ia a festas, ela tirava os óculos, dominada pela vaidade. Sentia-se usando uma máscara. E de monstro! Um Clóvis afastando os possíveis pretendentes. Contava com a ajuda das amigas para avaliar as paqueras. Só quando o rapaz chegava bem perto, para dançar ou beijar, ela mesma julgava.

          Nesse dia, as amigas não estavam e ela dançava sozinha. Foi aí que ele se aproximou, com os braços levantados, chamando-a para dançar. Apertou um pouco os olhos: era o Beto, um dos rapazes mais bonitos do bairro. Louro, bem alto, olhos verdes, conhecido objeto de suas fantasias.

          - Tudo bem? - ele disse.

          - Tudo bem, Beto. - e saiu dançando com ele.

          Ele, rindo, pegou no braço dela e leu na plaquinha da pulseira de ouro: Susana. Brincalhão, ela pensou, ele já a conhecia... Entre confetes e serpentinas, dançaram a noite inteira abraçados, cantando de cor as marchinhas que a orquestra tocava.

          No domingo, já sambavam numa harmonia de chamar a atenção de arquibancadas e camarotes na avenida. Só paravam para descansar quando os músicos faziam o intervalo, de hora em hora. Foi aí que aconteceu o primeiro beijo. Ela nem pestanejou: fechou os olhos e viu blocos de estrelas desfilando na escuridão à sua frente. Como ele beijava bem! Dez, nota dez!

          Na segunda, ela contou da miopia. Ele disse que não se incomodava com os óculos. Nem pensar! - ela pensou. Pediu-a em namoro, que ela fosse a eterna colombina da sua vida de pierrô apaixonado. Combinaram de apresentar os pais, acabado o Carnaval; o romance estava em contínua evolução.

          - Pode chamá-los de Betão e Vivi. - ele recomendou.

          Ela lembrou-se do nome dos pais dele, vizinhos do bairro, seu Roberto e dona Vilma, que conhecia de vista. Chegando em casa, avisou aos pais que, no próximo fim de semana, iriam conhecê-lo. O quesito família conta ponto nos relacionamentos.

          Último dia, terça-feira, é hoje só, amanhã não tem mais! Tomada por um amor de encher os olhos, concordou em ir a um motel ( na Barra da Tijuca, óbvio! ) com ele, depois da folia. Usou com os pais a famosa alegoria de moça de família, dizendo que iria dormir na casa de uma amiga que não tinha telefone. Uma transa maravilhosa, os olhos fechados de prazer. Ele foi um exímio mestre-sala, conduzindo com ritmo e maestria, a porta-estandarte pela cadência do amor.

          Quando terminaram, a quarta-feira já raiava e, para eles, nada tinha de cinza, só a luminosidade de paetês e cetim. Soltando-se dos abraços, ela abriu os olhos e olhou para ele, que estava bem perto. Era alto, louro, mas não era bonito nem tinha olhos verdes. Não era o Beto!!! Aproveitou que ele foi ao banheiro, abriu a carteira dele e lá estava: ALBERTO; filiação: Alberto e Vitória. O Beto que ela pensou enxergar chamava-se ROBERTO.

          Sentou-se na cama, olhando para o teto espelhado. Refletiu sobre tudo que aconteceu, o enredo que a envolvia e concluiu a sua moral da história: se o amor é cego ( míope ), quem ama o feio ( de óculos ), bonito lhe parece ( sem óculos ).

          Guardou os óculos e foi feliz para sempre. Por muitos Carnavais. Com o Beto ( ALBERTO ).