domingo, 31 de março de 2019

ALUNO É TUDO IGUAL

(Quando a pessoa dá aula durante muitos anos, geralmente se esquece do tempo em que era estudante. Aconteceu comigo.)

          Anos 2000 correndo a todo vapor. Professora aposentada e passando dos 50, resolvi aprender informática. Era o início de uma nova era e da necessidade de adaptação.

          A Faculdade Estácio de Sá ofereceu um curso para a 3a. idade e lá fui eu. No primeiro dia, me senti a ninfeta da turma. Os outros alunos? Mais de 60, mais de 70, mais de 80... e muito mais! Havia médicos, engenheiros, advogados e outros ex-profissionais.

          O professor Antônio, atencioso e paciente, tentava abrir uma luz nas nossas cabeças (brancas, na maioria, ou encobertas com tinta capilar). De repente, o mestre, tão bonzinho, chega perto de um dos alunos, aos berros:

          _ Pedro, coloque o mouse mais perto!

          Horrorizados com o ataque súbito, ele explicou para nós, sussurrando:

          _ Ele é surdo.

          Tudo corria relativamente bem, Internet, configuração, ícone (ai, meus neurônios!), quando surgiu o TRABALHO DE CASA. Todos concordaram, mas, na aula seguinte, uma semana depois, adivinhem se alguém fez? Não! Inclusive eu. As desculpas eram as mais esfarrapadas:

          _ O computador é diferente do meu.

          _ Tive que buscar o neto na escola.

          _ Não tive tempo. (detalhe: todos aposentados)

          A minha foi que eu estava sozinha em casa e o computador era, para mim, um monstro pronto para dar o bote e me devorar. Aliás, é até hoje.

          Antônio era decepção pura. Ainda havia as conversas paralelas, tais como escova progressiva, jogo de futebol, doenças, receita de bolo, governo, crimes, preços abusivos., quase no mesmo tom sonoro das explicações do pobre educador, que a toda hora implorava por "Silêncio!".

          Porém, o melhor (ou pior) estava por vir. No último dia do curso, ele levou o filho Yan para a aula. Adolescente, 16 anos, se bobear, sabia mais do que o pai. Tarefa passada, tipo um teste, toca o celular do professor. Pediu-nos mil desculpas, pois tinha que atender com urgência e foi para o corredor. Tão logo saiu, uma voz chamou:

          _ Yan, é assim que se faz?

          O rapaz prontamente se levantou e foi ajudar. Bastou isso para mil braços, que pareciam tentáculos, agarrarem e puxarem o coitado:

          _ Yan, aqui!

          _ Yan, rapidinho!

          E os que não conseguiam a atenção dele, olhavam para a tela do colega. Só esquecemos que a sala era envidraçada e o professor assistia a tudo, Desligou o telefone, entrou, olhou para aquele bando de delinquentes senis e, com a voz desanimada:

          _ Vocês não têm vergonha? Colando...

          E concluiu:

          _ Aluno é tudo igual!

          P.S.: Meu professor de natação é excelente, mas muito rigoroso. Dei-lhe o apelido de "general" porque parece que estou num quartel, recebendo ordens. Quando paro na borda da piscina para descansar, ele logo reclama:

          _ Vamos, vamos, não pode parar! Descansa nadando.

          Uma vez, aproveitei que estava ao lado de um rapaz muito alto e me escondi atrás dele, recuperando o fôlego. É logico que o Alexandre viu e a bronca rolou:

          _ Para de palhaçada e vai nadar!

          Mereci. Aluno é tudo igual.