quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A MULHER INVISÍVEL

( Loucuras são feitas na busca pela melhor aparência. As aparências enganam... )


          O anúncio no jornal parecia bem atraente: "Redefina sua expressão com a pigmentação de sobrancelhas. Você será notada e admirada." A mulher, à medida que envelhece, perde pelos onde não quer (sobrancelhas) e ganha onde não deve (buço, por exemplo). Estava cansada de passar em branco pelo marido, pelos filhos e por ela mesma. Olhava-se no espelho e não se via, sentia-se invisível. Não podia mais viver do passado, pensando em como era quando jovem. O futuro é agora e depende dos seus próprios atos no presente. Chega de timidez e indecisão! Criou coragem e decidiu-se: marcou hora e foi à luta para mudar de vida.

          No salão, a esteticista avisou que ficaria um pouco escuro nos primeiros dias, mas, depois, a aparência seria bem natural. Convenceu-a a mudar a cor dos cabelos, também. A moda, agora, eram tons avermelhados. Quando tudo acabou e olhou-se no espelho, quase gritou. Suas quase inexistentes sobrancelhas estavam grossas e escuras como breu. E os cabelos, quanta diferença! Não era um tom avermelhado, era o próprio vermelho em pessoa. Sentia-se uma mascote do Flamengo, rubra e negra.

          - É assim mesmo, depois você se acostuma. - consolou a esteticista.

          Envergonhada, botou o casaco na cabeça (que sorte que estava frio!), os óculos de leitura bem colados nos olhos e, sem enxergar direito, saiu tropeçando pela rua. Conseguiu chegar em casa, aos trancos e barrancos. E agora? Sem problema, pensou, são todos uns desligados com ela. Já apareceu engessada, enjoada, encharcada, e eles nada...

          Rezando para ninguém estar, tirou o casaco e os óculos e entrou. Os filhos, dois rapazes, estavam na sala, vendo televisão. Cumprimentou-os, rapidamente. A princípio, eles responderam mecanicamente, como sempre. Mas, logo em seguida, pegaram um pano de cobrir sofá e jogaram na cabeça dela, gritando:

          - Fogo! Fogo! Monteiro Lobato está pegando fogo!

          Teve vontade de incendiar os dois, que rolavam no chão de tanto rir. Foi quando o marido, vindo do banheiro, perguntou que confusão era aquela:

          - Fui ao salão, não está vendo? - berrou furiosa.

          E ele, alienado:

          - Fazer o quê? Fisioterapia?

          Diante das faíscas que ela lhe lançava pelos olhos e pelos cabelos e das gargalhadas dos filhos, ele caiu na real. Preferiu perder a mulher do que perder a piada:

          - Já sei, o salão desabou em cima de você.

          Ela nem respondeu. Que saudade dos tempos em que não era notada... Como viveria dali para a frente? Foi para o quarto e concluiu que não poderia tecer um manto de invisibilidade nem encomendar uma burca. Nada de passado ou futuro, tinha que resolver agora. Botou um vestido bem chamativo, maquiou-se exageradamente e voltou para a sala. Categórica, avisou:

          - Hoje não fiz janta. Vamos comer fora, num restaurante bem badalado. E preparem-se, porque amanhã vou encher a cara de botox!

sábado, 25 de setembro de 2010

ACONTECE NAS MELHORES FAMÍLIAS

(Oba! Hoje tive meus 15 SEGUNDOS de fama. Meu nome apareceu no Caderno de Esportes do jornal O Globo, bem pequenininho, no final da coluna "A Pelada Como Ela É". Isto porque este texto será postado, a partir de amanhã, no blog sobre peladas - de futebol, claro - do site do jornal. Podem conferir.)

          Nesta cidade, é quase uma obrigação cívica gostar de futebol. Torcer, opinar, ler, ou até mesmo jogar (privilégio de alguns), não importa, quando menos se espera, uma rede de circunstâncias fisga e envolve, sem direito a retorno. Pronto! O futebol pegou você. Não tem ame-o ou deixe-o. Mesmo as mulheres, que geralmente não curtem o famoso esporte bretão, são obrigadas a ouvir comentários e manifestações sobre vitórias e derrotas. E quando eles jogam, ou elas acompanham ou têm que se acostumar com as ausências.

          Além da já consagrada modalidade praticada pelos clubes, há outras menos favorecidas, tais como futebol de salão e de areia, chegando aos peladeiros de várzea e aos praticante de totó. Mas existe uma esquecida e, por isso mesmo, injustiçada, porque é, talvez, a mais disputada e emocionante de todas: Casados x Solteiros. É o confronto que está no subconsciente masculino; ser ou não ser casado, eis a questão. Os componentes de cada time se unem nas suas vantagens e desvantagens, alegrias e frustrações, apoiando-se, não só no campo, como nas suas escolhas de vida. Normalmente, acontecem antes ou depois de um churrasco.

          Aquela partida não fugiu à regra. Era o aniversário de um dos membros de uma grande família, com a soma dos amigos mais chegados, celebrado num clube de militares em Deodoro, subúrbio do Rio. Durante a comilança, foi aquela confraternização de homens, mulheres e crianças, regada a carnes e bebidas variadas. Barrigas cheias, papo vai, papo vem, alguém propôs:

          - Vamos bater uma bolinha?

          Após a aprovação geral da grande ideia, restava escolher os times. Outra grande ideia:

          - Que tal casados contra solteiros?

          Tudo resolvido. Que bonito! Pais, tios, padrinhos jogando contra filhos, sobrinhos e afilhados. As mulheres, em volta do campo, decidiam se torciam para os maridos ou para os filhos. Ah! Bobagem, tanto faz. O importante é a união familiar. Qualquer placar seria uma vitória.

          Mas, quando a bola começou a rolar, a agilidade e a habilidade dos solteiros predominou sobre a lerdeza e a incompetência dos casados. De um lado, havia juventude, músculos e despreocupações. Do outro, a idade pesando, barrigas avantajadas e contas e mais contas para pagar na cabeça. Passes certeiros, dribles de fazer cair sentado o adversário, cabeçadas precisas, matadas no peito, até bicicletas. Era um gol atrás do outro. Além de tudo, quando algum casado conseguia chegar à meta, havia o goleiro, uma barreira de 1, 90 m, forte e ágil nos seus vinte anos.

          Foi aí que acabou o amor paternal e começou o massacre. Cotoveladas, caneladas, empurrões. Puxões de calção e camisa eram os golpes menos baixos.

          - Pai, eu sou seu filho. - reclamava um.

          - Qual é, Tio? - implorava outro.

          E, por causa da maior idade, os casados mesmos eram os juízes e usavam as regras de acordo com suas conveniências.

          Enfim, depois de tudo e mais alguma coisa, conseguiram empatar o jogo em 4 x 4. O sol começava a se pôr, o esgotamento físico e as contusões já incomodavam, porém, antes que alguém propusesse o fim do jogo, um jogador casado escorregou e caiu. Como estava perto de um solteiro, os casados aproveitaram e gritaram em coro:

          - Pênalti!

          - Não foi, ele caiu sozinho.

          - Foi.

           - Não foi.

          Naturalmente que foi. Não tinha argumento. Era a ditadura da idade prevalecendo. Mas os solteiros estavam tranquilos porque tinham O goleiro. Bom, mas quem vai cobrar a penalidade? Escolhe daqui, escolhe dali, foi convocado o pai do goleiro. Os dois se posicionaram e, antes de bater, o pai olhou para aquela muralha e falou:

          - Beto, se você defender, eu corto sua mesada.

          O coitado do Beto começou a tremer e suar. Se defendesse, ficava sem mesada, com o fantasma real da miséria. Se deixasse a bola entrar, sua honra e fama de goleiraço iriam por água abaixo. E mais, o time contava com ele.

          - Agarra, Beto!

          - Vou cortar sua mesada.

          - Vai que é sua, Beto!

          - Defendeu, perdeu.

          O pânico tomou conta do Beto. A tremedeira era tanta, que ele nem conseguia rezar. Chegou a hora. O pai correu (correu, não, andou) para a bola e chutou. Os olhares de todos, jogadores e torcida, mirando o goleiro e a bola. Ele, paralisado, viu-a descrever uma curva estranha e ... foi para fora!

          Empate. Acabou o jogo. Parecia mágica: no instante seguinte, os jogadores se abraçaram sorridentes e foram cantar Parabéns para o aniversariante.

          Ainda sob o efeito da tensão, Beto não conseguia se mover da baliza. Estático, ouvia a família chamar e nada. Foi quando o pai, com um pedaço de bolo de chocolate na mão e um copo de refrigerante na outra, chamou:

          - Toma, filhão. O que você mais gosta.

          Passou tudo.

         

        

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Tá melhorando...

A partir de hoje, entrou a minha foto. Não se assustem. Melhor que isso, só com muito photoshop ou milagre. A produção ficou demais: vestida com o Manto Sagrado e com a força de São Judas Tadeu, o protetor do meu Mengão.

A VERDADEIRA RAINHA DO LAR

(A mulher é a rainha do lar? Isso já era...)


          Parece uma ladainha: "O moço compra... material velho, computador velho, geladeira velha, ar condicionado velho, alumínio velho... o moço também compra." O cara repete isso o dia todo, com voz monótona, numa Kombi (velha), andando pelas ruas do Rio de Janeiro. As pessoas reclamam por ouvirem alguns instantes, imaginem eu que escuto o tempo inteiro. Ele é um "mala", mas é o seu ganha-pão. Foi assim que eu parei aqui. Comprada pelo moço, agora sou uma televisão velha!

          Esse não é o problema, a vida é assim. Tudo tem seu tempo e eu tive o meu. Trocaram-me por uma nova, maior, de plasma. O que incomodou foi a maneira como a minha ex-família me tratou. Venderam-me por uma merreca e nem uma despedida eu tive. Correram para instalar e ligar a outra. Ingratos!

          Não há eletrodoméstico mais importante do que eu, nem o computador, que hoje em dia é tão valorizado. Grande companheira, tenho o dom de agregar as pessoas. Comigo, há emoção, humor, informação e, inclusive, uns cochilos ocasionais. Preencho até a falta de assunto de alguns relacionamentos. Dizem que eu prejudico a conversa. Absurdo! Eu dou assuntos para muitos papos. Basta me desligar ou abaixar o meu volume. Corja de família, nem uma lágrima derramaram por mim!

          Gero empregos de todo tipo, na realização de programas e anúncios, e na fabricação e venda de aparelhos. O "voz de ouro" aqui também vai ganhar, quando me vender. Tomara que uma nova família me compre logo. Vou tratar de esquecer aquela que só me usou. A sorte deles é que eu não posso falar, como as paredes. Sei tudo daquela gente!

          Já repararam que, depois do surgimento da televisão, as mulheres começaram a recusar o título de Rainha do Lar? Como geralmente não trabalhavam naquela época, elas assistiam à televisão e ficaram sabendo das coisas. Foi aí que o feminismo começou para valer. Se elas não querem o título, eu fico com ele. Não sou pobre soberba!

          Apesar da minha nobre posição, por enquanto, além da poluição sonora, tenho que aturar os insignificantes companheiros de viagem me sacaneando. "Rainha morta, rainha posta!" , disse o liquidificador. "A carruagem da rainha é uma Kombi." , falou o aspirador de pó. E o fogão: "Foi deposta pela burguesia!" Pois sim! Quando eu reassumir meu posto na nova casa, reinarei no meu trono, no centro da sala e das atenções. E vocês, reles súditos, permanecerão escondidos nos quartos, na cozinha e na área de serviço. Plebe!

          Quem é rainha nunca perde a majestade!

domingo, 19 de setembro de 2010

PEQUENO CONCERTO PARA UMA GRANDE AUSÊNCIA

(Vocês conseguem lembrar o que primeiro despertou a atenção na sua vida? Pois eu visualizo perfeitamente e tinha 2 anos, juro!)


          DÓ... Tenha dó! Por que nunca mais me procurou? Há quanto tempo nós nos encontramos pela primeira vez e foi uma paixão fulminante. Você era uma menininha ainda e eu, muito antigo, morava na casa da sua vizinha. Lembro bem do meu medo de ser agredido, era a atitude típica de quase todas as crianças. Mas lembro também do seu olhar se iluminando ao me ver, meu perfume de madeira e marfim penetrando e fixando-se em você, do seu toque, quase um carinho, o som suave que ele provocou. Ninguém entendia aquela precoce atração.

          RÉ... Recomece, nunca é tarde para concretizar um sonho. Desculpas, várias já foram dadas e inventadas, desde situação econômica, necessidades familiares, até falta de tempo. Tudo isso pode ser superado.

          MI... Milhões de ´possibilidades eu lhe ofereço. A música busca o infinito e, nessa procura, haverá um enriquecimento da sua vida, em tons e semitons.

          FÁ... Faça de mim uma parte do seu todo, eu não exijo exclusividade. Pode continuar com seus outros planos. Bastam alguns momentos e pronto.

          SOL... Solte esses nós de complexos e indecisões e surpeenda-se com um tipo de perfeição que pertencerá apenas a você. Você não precisa ser a melhor.

          LÁ... Lamente só o que você deixou de fazer. Você desistiu de mim por um tempo. o seu tempo não foi desperdiçado, está em compasso de espera, esperando o seu despertar. Coloco minhas teclas em suas mãos.

          SI... Sigamos o mesmo caminho. Aonde ele vai dar e os riscos e problemas que aparecerão, eu não sei. Mas vamos tentar? Nem que seja apenas mais uma promessa para o Ano Novo.


(P.S.: Emocionante,né? Cheguei a fazer, por alguns meses, um curso, não de piano, mas de teclado, pois ganhei um de 3ª mão de presente. Não tinha mais desculpas. Dou minhas tocadinhas e o pessoal em coro diz "Toca, Ranier!", lembram o personagem do Castrinho? Não sei por quê...)

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A LIQUIDAÇÃO

(Inverno acabando, primavera chegando, ofertas e promoções se anunciando... Xô, tentação!!!)




          Num início de tarde, uma mulher entrou num shopping, esbaforida e com uma lista de compras na mão. Estava vestida simplesmente, com os cabelos presos num coque mal feito, sem maquiagem ou perfume. No mesmo instante, Deus chamou um anjo auxiliar e ordenou:

          - Traga essa perua para cá, chegou a hora dela.

          O anjo partiu em defesa da mulher:

          - Perdão, Senhor, mas "perua" é o que ela não é. Essa moça casou nova, tem três filhos, trabalha fora. Não tem tempo para se cuidar.

          O Todo Poderoso consertou:

          - Tá bom, traga essa mocreia para cá.

          O anjo não desistiu:

          - Senhor, dê uma chance para ela aproveitar a vida, ter um pouco de alegria. Tenho uma ideia: esta semana tem liquidação nos shoppings da cidade. Vou fazer uma pequena alteração na lista de compras dela, que só tem coisas para a família: pilhas para o radinho do marido, meias para as crianças, panela de pressão. Por favor, Senhor!

          ELE, então, decidiu:

          - Vamos fazer o seguinte: uma alteração e uma hora a mais de vida.

          - Deus seja louvado! Assim, ela vai morrer feliz.

          Quando a mulher foi conferir a lista, notou que havia sapatos da loja do segundo andar. Achou estranho, não lembrava de ter colocado isso, logo ela que achava supérfluo tudo relacionado à moda. Mas resolveu ir até lá, por curiosidade. Os sapatos estavam baratíssimos, por causa da liquidação, e ela comprou um modelo bem moderno, bonito, que calçou como uma luva. Ficou feliz, mas durou pouco. Lembrou que não tinha bolsa para combinar com o sapato. Começou a se arrepender, achando tudo bobagem e voltou àquele estado de espírito desanimado e conformado.

          Notando o que aconteceu, o anjo pediu outra vez:

          - Só mais uma alteração e mais uma hora.

          O Criador concordou e, ao olhar novamente a lista, a mulher leu, com espanto, bolsa, na loja do final do corredor. Comprou uma que casava bem com o sapato, já sem culpa. Afinal, era liquidação. Mas, de que adianta sapato e bolsa sem uma roupinha nova? A insatisfação tomou conta dela.

          Porém, ela tinha um competente advogado. Mais uma alteração na lista para comprar um vestido lindo, bem em conta, e mais uma hora de vida. E o cabelo? Sem vida, mal cortado. Que tristeza! Mais uma hora de bonificação, usada no cabeleireiro, que, por acaso, estava na lista, com hora marcada e tudo. Até unha ela fez, pois havia uma promoção para quem cuidasse do cabelo.

          A tarde estava acabando, a noite vinha chegando e os itens não paravam: jóia, perfume, batom. Até que Deus se encheu e deu um basta:

          - Chega, anjo, acabou minha paciência! Eu não sou Jó!

          - Perdão, Senhor. Fiz com a melhor das intenções.

          - De boas intenções, o inferno está cheio. - disse o grande Chefe.

          Derrotado, o anjo explicou:

          - Eu achei que, aproveitando a liquidação, ela pensaria um pouco nela e encontraria o equilíbrio e a satisfação.

          E o Pai, em Sua sabedoria:

          - Acorda, rapaz! Mulher equilibrada e satisfeita com compras? Nem em outra encarnação. Liquida logo!


        

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A VIDA NÃO É BELA

(Parece história, mas, de vez em quando, volta a acontecer. E a Copa será em 2 014...)


          "Os dois ponteiros do relógio se uniram no alto para anunciar a meia-noite. A penumbra noturna e o silêncio pesado envolviam o árido e frio ambiente. O destino era um mistério insolúvel.


          Seres quase sem vida amontoavam-se no chão. Outros, com uma ínfima gota de esperança, tentavam caminhar, cambaleantes. Roupas em frangalhos, corpos sem higiene, dores incômodas, eram todos prisioneiros daquela masmorra de terror. O monstro havia sugado toda a sua energia, transformando-os em mortos-vivos, zumbis sob seus caprichos e vontades. Onde estamos? Para onde vamos?


          O monstro é muito poderoso e, para vencê-lo, só com a força da mente. Controle e paciência são as armas para combatê-lo. Mas o tempo era impiedoso e a madrugada penetrava cada vez mais, diminuindo suas resistências. Era inútil reagir, eles sabiam, e o desespero tomou conta de suas almas errantes. Esta é a noite dos oprimidos.


          Ah, quem sabe aquela criatura sorridente atrás do balcão pode ser a salvação? Recuperam-se um pouco e buscam sua ajuda, porém a resposta é sempre a mesma, ninguém sabe de nada. O filho tem fome e sede e o pai já não sabe mais como alimentá-lo. Estão todos presos no cárcere da incompetência e pagaram por isso. Vidas desperdiçadas numa espera que não tem fim.


          É o fim! Fim da promissora carreira, pois perderá importante reunião de trabalho. Fim do razoável relacionamento com a ex-mulher, pois o filho faltará à prova de Matemática..."

          - Legal! Não vou à escola. E ainda virei um zumbi. Muito maneiro! Ô pai, já sei, essa história é sobre a galera aqui no aeroporto e o monstro é o apagão aéreo, né? Tá contando isso pra me assustar? Fala sério! Lá na escola, eu e meus colegas fizemos um "troço" bem legal, escuta só: "Um avião do Peru vai entrar na Chechênia. Caracas! Vão tomar no Kuwait! O piloto é de Boston e vai à Mérida. E quem é do Brasil vai pra..."

          Ressuscitados da inércia degradante pela voz aguda da criança, como no "THRILLER", do Michael Jackson, todos os passageiros em trânsito responderam em coro com o garoto. Palavras não muito bonitas, mas que formaram a rima perfeita.

,

       

Melhorias

          Vocês devem ter achado o blog meio chinfrim. A desculpa é que comecei há pouco tempo e sou uma nulidade em informática. Adoro ler, mas confesso que detesto manuais de instrução, parecem livros de terror para mim. Aos poucos, vai melhorar. Hoje já tem perfil, estou progredindo. Contrariando o dito popular, espero que o santo aqui de casa faça milagre e lide com essa parte. Porque o meu negócio é escrever. Aí vai mais um.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

POEMA PARA O HOMEM DE QUARENTA

(Dizem que quando se entra nos "enta", não sai mais.Esta é a minha homenagem aos homens desta fase difícil.Já entrei nela há quase 20 anos - ih, me denunciei!!!- e sei bem como é, mesmo sendo mulher.Sejam HOMENS e aproveitem.)


O homem de quarenta
Nem a mulher aguenta
A memória fica lenta
Só a preguiça aumenta

O botão da calça arrebenta
No instante em que ele senta
Calvície à vista é nojenta
Mas tem muito cabelo na venta

Porém ele não esquenta
E todo dia tenta
Desiste e logo inventa
Não ter a idade que aparenta

Apesar do que se comenta
Espera chegar aos noventa
Com uma garota grudenta
Que o seu dinheiro sustenta

Se a poesia é isenta
VIVA O HOMEM DE QUARENTA !!!

DEBATES ELEITORAIS

(Foi escrito há 4 anos,nas últimas eleições gerais.Vejam como ainda está atual.)


          - Pai, eu quero votar.

          - Vai pedir à sua mãe. - respondeu, sem tirar os olhos do jornal.

          - Mas, pai, eu já falei e ela disse que está ocupada com o jantar, que trabalhou o dia inteiro igual a você e que não conseguiu ler o jornal ainda.

          Aquilo era sinal de sermão e, para não discutir com a mulher, ele resolveu dar atenção ao filho.

          - Você quer o quê?

          - Votar.

          - Não pode, filho. Você só tem nove anos.

          - Mas, pai, eu sei como se faz na urna eletrônica. É mais fácil que o computador. Lembra que eu ajudo você e a mamãe a mexer nele?

          - Só que você não saberia em quem votar.

          - E daí? Você falou que o povo não sabe votar, só escolhe candidatos ruins. É, eu escutei! Você e a mamãe já resolveram? (O pai engoliu em seco.) Então, eu posso escolher qualquer um. Tem um legal, o Chiquinho do Cachorro-Quente. Pô, eu adoro cachorro-quente!

          Pode, não pode. Nervoso, sem mais argumentos, o pai conseguiu convencer o filho, prometendo que deixaria ele apertar os botões, na hora da votação, se os mesários permitissem. Quando começou a se acalmar, lembrou que o mais velho, de dezoito anos, tinha acabado de tirar o título de eleitor. Preocupado, foi ao quarto dele:

          - Garoto, sai um pouco do computador e desliga o celular. Como é que você consegue??? Preciso falar com você.

         - Qual é, pai?

          - Filho, esta será a primeira vez que você vai votar.

          - Ih, é!

          - Isso é muito importante. As nossas escolhas vão influenciar o futuro do Brasil.

          - Tô sabendo.

          - Por isso, filhão, temos que conversar.

          - Ah, precisa não, pai. Na véspera da eleição, os moleque(sic) vão fazer um churrasco e o que a galera decidir, a gente vota. Fica frio.

          O pai começou a suar frio.

          - Espera aí, os "moleque" da galera são o Cabeção, o Crosta e o Mancha Negra?

          -É. E o Orelha, o Pit, o Seu Coisa, o Verme e o Coçada, todos os "bro". Vai rolar uns gorós, também. Tamos pensando em votar num que falou que é representante do Bonde da Comunidade.

          O pai gemeu:

          - Bonde da Comunidade? E os outros candidatos?

          - O resto? Sei não...

          Já histérico, o pai berrou:

          - Mulher, tô passando mal. E é tudo culpa sua. Esses seus filhos vão me matar.

          - Vão nada. Quando eu brigo com eles, você diz que eu estou com TPM. Isso é só TPE: tensão pré-eleitoral. Depois da eleição, passa.

          Gesticulando e falando num tom professoral, ele concluiu:

          - O voto não deveria ser obrigatório. Tinha que haver um curso para se votar. Eu iria matricular a família toda.

          - Já ganhou, já ganhou! - aplaudiram os meninos.

          - Querido, esse curso nunca existirá. Não interessa que as pessoas votem bem. Agora, para com o discurso! E vamos jantar.

          E pensar que, daqui a dois anos, é tudo de novo...

        

MINHA HISTÓRIA DE LEITURA

(Este é  bem sentimental, o típico texto "mulherzinha". Mas é onde tudo começa.)


          Era uma vez uma menininha que se apaixonou pelas histórias contadas pela sua avó. Vovó Elena nem sabia ler, mas contava históras como ninguém e a preferida da Regina era "São Jorge e o Dragão". Assim, acreditava que o bem sempre vencia o mal e que todos seriam felizes para sempre.

          Quando a menina aprendeu a ler, ganhou de presente do pai a coleção completa de livros de Monteiro Lobato. Leu e releu e releu... E descobriu que a leitura era uma outra maneira de "ouvir" histórias. Depois, contava-as para quem quisesse ouvir. Começava a perceber um outro mundo, diferente daquele onde vivia, mas muito bom também.

          Para a mocinha e, mais tarde, para a moça, os livros foram mudando, porque, além da necessidade de prazer e de informação, testemunharam, silenciosamente, todas as mudanças, conflitos e acontecimentos da vida dela. Algumas vezes, com um assunto diferente, outras, com uma opinião acertada e, ainda outras, com uma singela narrativa.

          Este foi o início de uma história que ainda não terminou porque, dentro da mulher que ela é, habitam a menininha, a menina, a mocinha e a moça, fazendo com que ela busque e encontre alegria em todo tipo de livro. E continua acreditando que o bem que existe no encantamento da leitura pode vencer o mal, venha de onde vier, especialmente da desinformação. Palavras dela: "A felicidade, como um todo, não existe. Ela está em tentar ser feliz todos os dias e ler um livro é uma das melhores tentativas."

,         

CONTOS E DESCONTOS

           Oi, Queridos e Queridas sem falsidade, pois eu considero realmente querido(a) quem tem o trabalho de ler os meus textos, Contos e Descontos.
          
           Acharam que lucrariam alguma coisa? Financeiramente, nem pensar! Vocês só ganharão experiência. Os Contos são as histórias reais ou inventadas que sõ descritas da maneira tradicional, contando mesmo. Os Descontos são formas diferentes de mostrar as minhas ideias e vivências. Tem de tudo: crônica, poema,rap (por que não?), receita,diário, teatro... sobre política, futebol (só homem é que pode?), criança, relacionamento...

          Comecei com uma fase "emo", onde os sentimentos foram tirados lá do fundo do poço. Mas logo o humor me chamou, nas suas múltiplas facetas, e eu fui. Posso ter embarcado numa canoa furada; tudo bem, eu sei nadar.

          Viajem comigo, na maionese mesmo, e juntos buscaremos a alegria de viver. O seu riso ou, pelo menos, o seu sorriso é o meu destino nessa viagem, de texto em texto.

          E, importante, se gostarem, divulguem porque a propaganda é a alma do negócio.