( 31 de Outubro, Dia das Bruxas. Eu não acredito, mas que elas existem, existem! Vocês creem em destino? Adivinhos, astrólogos, ciganos, cartomantes... )
Parece que os pais dele adivinharam quando escolheram seu nome: Glicério era o cara mais sério de que se tem notícia. Compenetrado, respeitador e econômico. Como não casou e não tinha mais família, dedicou-se com tal afinco ao trabalho, que ninguém no escritório conseguia tirá-lo da linha. Nada de conversa fiada, paqueras ou chopinhos depois do expediente.
Isso foi até a festinha de amigo oculto do último fim de ano. Glicério ganhou um livro da colega Helena, mas não houve interesse em se saber qual era o título. O presente estava bem de acordo com ele. Quando voltaram das férias coletivas, o homem era outro. Os adjetivos que o qualificavam mudaram para brincalhão, paquerador e esbanjador. Não livrava nenhuma cara nas suas brincadeiras, nem a do patrão. Azarava até a senhora que fazia a faxina. E as happy-hours eram diárias e prolongadas.
No início, todos gostaram da transformação, mesmo sem entender o porquê. Depois, os colegas começaram a se preocupar. Glicério caiu na esbórnia, exageradamente, com risco de perder o emprego. O patrão levava em consideração os quase trinta anos de bons serviços, mas estava ficando demais. Até que criaram coragem e foram falar com ele:
- Menos, Glicério. O que está havendo?
Já ligeiramente alcoolizado, respondeu:
- Foi aquele livro que a Helena me deu. Mudou minha vida. Hic... Uma vez, me falaram: "Não leve sua existência tão a sério porque você não vai sair dela com vida.". Eu não levei a sério. Quá, quá, quá...
O colega argumentou:
- Tudo bem, mas você está indo longe demais.
- Longe? Hic... Meu fim está perto mesmo.
A confusão se instalou na cabeça deles. Fim? Livro? Ele explicou:
- "Aprenda a Ler Mãos". Li e vi que a minha linha da vida é curta. Então...
Helena sentiu-se culpada. Gostava de assuntos esotéricos e deu o livro para ele de brincadeira. Tentou consertar:
- Glicério, calma, não leve tão a sério. Você pode não ter lido direito.
- É curta, sim, olha aqui!
- Glicério, esta não é a linha da vida, é a da inteligência.
Ele levantou-se, fixou os olhos nos colegas, que prendiam o riso, e balbuciou:
- Ah, é? Graças a Deus!
Voltou a ser o mesmo Glicério de antes, compenetrado, respeitador, econômico. E sério.
Que bom ser a primeira a comentar esta brilhante crônica. Regina, vc é demais!!! Uma mente tão criativa... De onde vc tira tantas histórias, mulher?
ResponderExcluirADOREI ESSA DO GLICÉRIO!!!! Inteligência zero, kkkkkk!!!!
Beijos enormes! (Desculpe se demoro a passar por aqui...)
Regina... Regina...
ResponderExcluirNão pare nunca !!!!
A tua linha da inteligência deve ter uns mil quilômetros !!!!!!!!!!!!!!!!
Abração,
Maria Teresa
Antes ter a inteligência curta do que a vida! Essa é ótima! Beijão, Silvia.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOi, Regina ,
ResponderExcluirDemorei um pouquinho(hehehe), mas finalemnte vim conhecer seu blog.
Estou adorando ! E esse "Fim da Linha", me fez dar boas risadas.
Vc tem leveza e sensibilidade para escrever.
Parabéns, querida !
Virei sempre aqui, tá ?
Beijinhos carinhosos,
Andresa.