(Foi escrito há 4 anos,nas últimas eleições gerais.Vejam como ainda está atual.)
- Pai, eu quero votar.
- Vai pedir à sua mãe. - respondeu, sem tirar os olhos do jornal.
- Mas, pai, eu já falei e ela disse que está ocupada com o jantar, que trabalhou o dia inteiro igual a você e que não conseguiu ler o jornal ainda.
Aquilo era sinal de sermão e, para não discutir com a mulher, ele resolveu dar atenção ao filho.
- Você quer o quê?
- Votar.
- Não pode, filho. Você só tem nove anos.
- Mas, pai, eu sei como se faz na urna eletrônica. É mais fácil que o computador. Lembra que eu ajudo você e a mamãe a mexer nele?
- Só que você não saberia em quem votar.
- E daí? Você falou que o povo não sabe votar, só escolhe candidatos ruins. É, eu escutei! Você e a mamãe já resolveram? (O pai engoliu em seco.) Então, eu posso escolher qualquer um. Tem um legal, o Chiquinho do Cachorro-Quente. Pô, eu adoro cachorro-quente!
Pode, não pode. Nervoso, sem mais argumentos, o pai conseguiu convencer o filho, prometendo que deixaria ele apertar os botões, na hora da votação, se os mesários permitissem. Quando começou a se acalmar, lembrou que o mais velho, de dezoito anos, tinha acabado de tirar o título de eleitor. Preocupado, foi ao quarto dele:
- Garoto, sai um pouco do computador e desliga o celular. Como é que você consegue??? Preciso falar com você.
- Qual é, pai?
- Filho, esta será a primeira vez que você vai votar.
- Ih, é!
- Isso é muito importante. As nossas escolhas vão influenciar o futuro do Brasil.
- Tô sabendo.
- Por isso, filhão, temos que conversar.
- Ah, precisa não, pai. Na véspera da eleição, os moleque(sic) vão fazer um churrasco e o que a galera decidir, a gente vota. Fica frio.
O pai começou a suar frio.
- Espera aí, os "moleque" da galera são o Cabeção, o Crosta e o Mancha Negra?
-É. E o Orelha, o Pit, o Seu Coisa, o Verme e o Coçada, todos os "bro". Vai rolar uns gorós, também. Tamos pensando em votar num que falou que é representante do Bonde da Comunidade.
O pai gemeu:
- Bonde da Comunidade? E os outros candidatos?
- O resto? Sei não...
Já histérico, o pai berrou:
- Mulher, tô passando mal. E é tudo culpa sua. Esses seus filhos vão me matar.
- Vão nada. Quando eu brigo com eles, você diz que eu estou com TPM. Isso é só TPE: tensão pré-eleitoral. Depois da eleição, passa.
Gesticulando e falando num tom professoral, ele concluiu:
- O voto não deveria ser obrigatório. Tinha que haver um curso para se votar. Eu iria matricular a família toda.
- Já ganhou, já ganhou! - aplaudiram os meninos.
- Querido, esse curso nunca existirá. Não interessa que as pessoas votem bem. Agora, para com o discurso! E vamos jantar.
E pensar que, daqui a dois anos, é tudo de novo...
Muito bom!!!! Vc é muito fera nas crônicas com diálogo. Amei essa, que está pra lá de atual!!!!
ResponderExcluirPARABÉNS!
Beijos!
De genio!!!
ResponderExcluirAlias, de cronista genial!!!
Parabens, beijoca,
Maria Teresa
Muito bom! Adorei! bjs
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