segunda-feira, 13 de setembro de 2010

DEBATES ELEITORAIS

(Foi escrito há 4 anos,nas últimas eleições gerais.Vejam como ainda está atual.)


          - Pai, eu quero votar.

          - Vai pedir à sua mãe. - respondeu, sem tirar os olhos do jornal.

          - Mas, pai, eu já falei e ela disse que está ocupada com o jantar, que trabalhou o dia inteiro igual a você e que não conseguiu ler o jornal ainda.

          Aquilo era sinal de sermão e, para não discutir com a mulher, ele resolveu dar atenção ao filho.

          - Você quer o quê?

          - Votar.

          - Não pode, filho. Você só tem nove anos.

          - Mas, pai, eu sei como se faz na urna eletrônica. É mais fácil que o computador. Lembra que eu ajudo você e a mamãe a mexer nele?

          - Só que você não saberia em quem votar.

          - E daí? Você falou que o povo não sabe votar, só escolhe candidatos ruins. É, eu escutei! Você e a mamãe já resolveram? (O pai engoliu em seco.) Então, eu posso escolher qualquer um. Tem um legal, o Chiquinho do Cachorro-Quente. Pô, eu adoro cachorro-quente!

          Pode, não pode. Nervoso, sem mais argumentos, o pai conseguiu convencer o filho, prometendo que deixaria ele apertar os botões, na hora da votação, se os mesários permitissem. Quando começou a se acalmar, lembrou que o mais velho, de dezoito anos, tinha acabado de tirar o título de eleitor. Preocupado, foi ao quarto dele:

          - Garoto, sai um pouco do computador e desliga o celular. Como é que você consegue??? Preciso falar com você.

         - Qual é, pai?

          - Filho, esta será a primeira vez que você vai votar.

          - Ih, é!

          - Isso é muito importante. As nossas escolhas vão influenciar o futuro do Brasil.

          - Tô sabendo.

          - Por isso, filhão, temos que conversar.

          - Ah, precisa não, pai. Na véspera da eleição, os moleque(sic) vão fazer um churrasco e o que a galera decidir, a gente vota. Fica frio.

          O pai começou a suar frio.

          - Espera aí, os "moleque" da galera são o Cabeção, o Crosta e o Mancha Negra?

          -É. E o Orelha, o Pit, o Seu Coisa, o Verme e o Coçada, todos os "bro". Vai rolar uns gorós, também. Tamos pensando em votar num que falou que é representante do Bonde da Comunidade.

          O pai gemeu:

          - Bonde da Comunidade? E os outros candidatos?

          - O resto? Sei não...

          Já histérico, o pai berrou:

          - Mulher, tô passando mal. E é tudo culpa sua. Esses seus filhos vão me matar.

          - Vão nada. Quando eu brigo com eles, você diz que eu estou com TPM. Isso é só TPE: tensão pré-eleitoral. Depois da eleição, passa.

          Gesticulando e falando num tom professoral, ele concluiu:

          - O voto não deveria ser obrigatório. Tinha que haver um curso para se votar. Eu iria matricular a família toda.

          - Já ganhou, já ganhou! - aplaudiram os meninos.

          - Querido, esse curso nunca existirá. Não interessa que as pessoas votem bem. Agora, para com o discurso! E vamos jantar.

          E pensar que, daqui a dois anos, é tudo de novo...

        

3 comentários:

  1. Muito bom!!!! Vc é muito fera nas crônicas com diálogo. Amei essa, que está pra lá de atual!!!!

    PARABÉNS!

    Beijos!

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  2. De genio!!!
    Alias, de cronista genial!!!
    Parabens, beijoca,
    Maria Teresa

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