segunda-feira, 20 de junho de 2011

DIÁRIOS

( Engraçado... Mesmo adorando ler e escrever, nunca fui de fazer diário, nem quando era jovem. Até a postagem no blog não é diária. Resolvi me redimir e fiz logo 2. No primeiro texto, voltei aos meus 12, 13 anos. Anos 60, ah, meus tempos... Já no segundo, um pirata encarnou em mim, navegando pelos sete mares. Pode ser do Caribe, mas não é o Jack Sparrow. Como sempre, postarei um embaixo do outro, para ficar mais arrumadinho. )

I -  A  BELA  DE  TODAS  AS  TARDES

          Querido Diário:

          Hoje não vou lhe contar como foi o meu dia na escola e em casa.

          Vou falar sobre uma pessoa e só com você eu me sinto à vontade de dizer tudo. Não, não é um namorado. É uma moça. Uma mulher que poderia ser minha mãe. Já há algum tempo que a conheço e ouço falar dela. E, cada vez mais, a minha curiosidade aumenta.

          C. mora aqui no nosso bairro mesmo. É casada e não trabalha fora. Mas todas as tardes, ela se arruma toda e sai. Usa toda a maquiagem a que tem direito, pancake, sombra, rímel, rouge, batom. O cabelo, bem pintado de preto ébano, é cuidadosamente enrolado com bobies e solto em leve armação. Veste-se com vestidos justos, curtos e decotados, revelando um corpo bem proporcionado. Os saltos altos dão uma cadência dançante ao seu andar. Pra onde será que ela vai?

          Finjo que não presto atenção, mas escuto os adultos falarem muita coisa sobre ela. Os homens dizem que é boazuda, que já saíram com ela, que não é mulher para casar. As mulheres chamam-na de vagabunda, que não é tão bonita assim e anda nua em casa. Papai diz que é uma vergonha, mamãe, que é uma infeliz. Um colega da rua me contou que, quando ela passou na garupa da lambreta do marido, os rapazes maiores gritaram "Corno! Corno!", e eu sei que significa o homem que é traído pela mulher. Aí, eu me lembrei de um filme que eu não posso ver porque é para maiores de dezoito anos, mas eu li sobre o enredo no jornal. "Belle de Jour" (Bela da Tarde) é a história de uma mulher que ama o marido, no entanto não consegue ser feliz com ele e, por isso, toda a tarde ela sai e o trai com diferentes homens. Pra onde será que ela vai?

          Quando ela passa na rua, as pessoas viram a cara e não cumprimentam, mas como olham! Será que olham para ela ou para a coragem dela de fazer o que bem entende, sem se preocupar com a opinião alheia? Tudo isso a torna, para mim, um ser inatingível, quase irreal, que fascina e desperta sentimentos, como uma sereia da terra. Não sei até que ponto é imune ao julgamento que fazem, transformando-a numa ré, mas vai vivendo a vida do seu jeito, sempre sorrindo, carinhosa com o marido, arrumando-se com apuro e saindo todas as tardes. Pra onde será que ela vai?

          Até amanhã, Diário.


II -  DIÁRIO  DE  BORDO,  JUNHO  DE  1811

          Depois do jantar, eu, o grande Capitão Dick Pirata, vulgo C. D. Pirata, sentei-me no convés do navio com meus marujos, conversando e saboreando uns uísques legítimos que incorporamos ao nosso patrimônio. Um bando de homens reunidos, geralmente, só falam besteira, porém, não sei como, a conversa mudou de rumo e um deles saiu-se com essa: "A felicidade não é um porto de chegada, mas uma forma de viajar." De onde aquela besta tirou essa pérola? Acredito que, a não ser os que estão de porre, todos devem estar matutando sobre isso.

          Pelo pouco que sei, desde que o mundo é mundo, as pessoas querem mais é ser felizes, mas tudo é relativo (alguém ainda vai me roubar esta ideia). O que pode ser bom para um pode não ser para outro. Riqueza e poder significam felicidade para muitos. Já a cura de uma doença ou a solução de um problema são sinônimos dela para outros. Assim como nós navegamos pelos sete mares, em busca do baú do tesouro, que eu nem sei se existe, o povão sai procurando pelo seu baú da felicidade.

          Não sei se ela pode ser encontrada, mas que há momentos bons, ora se há! Uma substancial evacuação, depois de dias constipado, leva o cara ao paraíso. Mandar para o inferno um inimigo mala com a ponta da espada ou encarar uma mulher bem cachorra... não quero nem que Deus me ajude!

          Dizem que eu não passo de um ladrão, mas, na realidade, todos nós somos piratas, pois saqueamos aquilo que outro deseja. Você consegue um trabalho, ganha um sorteio ou vence um jogo que o outro também queria.

          Não tenho casa nem família, mas tenho meu barco e meus rapazes, comida e bebida. Mulheres, só quando atracamos num porto qualquer. Pra que complicar? O negócio é tentar ser feliz, mas será que depende de outra pessoa ou de alguma coisa? Ou está dentro da gente mesmo e esta é a forma de viajar? Sei lá!

          Tá dentro, tá fora, existe, não existe.

          Isso me deu sono.

          Já estava me preparando para dormir, quando o meu imediato, Oni Bus Pirata, veio me dizer que recolheu do mar uma garrafa com um mapa, indicando uma ilha chamada Felicidade, a leste. É real ou será uma ilha da fantasia? Não quero saber! Vou acordar essa cambada e mandar içar velas. FELICIDADE, aqui vou eu!!!

 

9 comentários:

  1. Obaaaaaaaaaaaaaaa !!! Eu estava sentindo falta , viu ? Pensei que tivesse abandonado o blog, afinal ele continua te boicotando. E lá vou eu postar com minha identidade secreta. hahah
    Sabe, que eu tb tinha um diário ? Mas nem era tão criança assim. Isso foi lá pelos meus 18 anos. Mas tive que desistir dele... diários são muito atraentes e sempre tem alguém de olho. hahahahahahah
    Regina, eu adorei essa página do seu diário ! Tb me fez recordar dos anos 60.
    E é verdade, as pessoas julgam e criticam tudo que as outras pessoas fazem e elas não ousam fazer. kkkkk

    Que bom que vc voltou, minha escritora !!!
    Beijos e boa semana .

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  2. Regina, sou muito distraída ou incorporei minha identidade secreta mesmo. hahahahaha
    Mas lá vai, o Anônimo sou eu, Andresa.
    Bom fim de semana !
    Beijinhos.

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  3. Ei! Regina,
    Sds. Bom! Muito bom. Verdade...criticar é fácil, ousar é ter coragem......Rsrsrs....
    Nem sempre o que os olhos veem são verdades.
    Bjs. Jan.

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  4. REgina, adorei o capitão C.D Pirata !
    Sabe, fiquei pensando sobre a Felicidade . Será que existe mesmo .... hummmmm Será que depende de alguém ? De alguma circunstância ??? Não sei , viu ? Mas eu bem gostaria de encontrar uma garrafa com um mapa com uma ilha chamada Felicidade. heheheheheh
    Seus Contos me fazem rir, amiga. Vc tem memso muita facilidade e simplicidade para escrever.
    Bom fim de semana e beijos.

    Sua Anônima Fã e Leitora assídua,
    Andresa

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  5. Regina a bela da tarde é corajosa mesmo,vivendo sua vida sem dar ouvidos aos fofoqueiros de plantão! Quem não conheceu alguém assim? Já o C D Pirata é sensacional! Adorei sua busca pela felicidade,mas ele bem que podia mostrar o mapa onde fica essa tal ilha hahaha...Parabéns pelos textos mais uma vez! Bjs Lena

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Adorei os dois textos! Gostaria de saber ao de vai a Bela da Tarde, mas a vida é dela e vou respeitar a sua privacidade . Quanto ao segundo texto, gostaria de viajar com o pirata e conhecer a ilha da Felicidade. Será que ela existe, concretamente, ou ela está dentro de nós? Abraços

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  9. Adorei os dois textos! Gostaria de saber ao de vai a Bela da Tarde, mas a vida é dela e vou respeitar a sua privacidade . Quanto ao segundo texto, gostaria de viajar com o pirata e conhecer a ilha da Felicidade. Será que ela existe, concretamente, ou ela está dentro de nós? Abraços

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