domingo, 13 de março de 2011

PONTO DE VISTA SOB A ÓTICA DO CARNAVAL

( O Carnaval acabou. Amor de Carnaval acaba na 4ª feira de Cinzas ou dura? Depende da VISÃO de cada um. )

          Tudo começou num baile, sábado de Carnaval. Anos sessenta, clube de subúrbio carioca ( Água Santa ), não se falava em lente de contato. Muito míope, quando ia a festas, ela tirava os óculos, dominada pela vaidade. Sentia-se usando uma máscara. E de monstro! Um Clóvis afastando os possíveis pretendentes. Contava com a ajuda das amigas para avaliar as paqueras. Só quando o rapaz chegava bem perto, para dançar ou beijar, ela mesma julgava.

          Nesse dia, as amigas não estavam e ela dançava sozinha. Foi aí que ele se aproximou, com os braços levantados, chamando-a para dançar. Apertou um pouco os olhos: era o Beto, um dos rapazes mais bonitos do bairro. Louro, bem alto, olhos verdes, conhecido objeto de suas fantasias.

          - Tudo bem? - ele disse.

          - Tudo bem, Beto. - e saiu dançando com ele.

          Ele, rindo, pegou no braço dela e leu na plaquinha da pulseira de ouro: Susana. Brincalhão, ela pensou, ele já a conhecia... Entre confetes e serpentinas, dançaram a noite inteira abraçados, cantando de cor as marchinhas que a orquestra tocava.

          No domingo, já sambavam numa harmonia de chamar a atenção de arquibancadas e camarotes na avenida. Só paravam para descansar quando os músicos faziam o intervalo, de hora em hora. Foi aí que aconteceu o primeiro beijo. Ela nem pestanejou: fechou os olhos e viu blocos de estrelas desfilando na escuridão à sua frente. Como ele beijava bem! Dez, nota dez!

          Na segunda, ela contou da miopia. Ele disse que não se incomodava com os óculos. Nem pensar! - ela pensou. Pediu-a em namoro, que ela fosse a eterna colombina da sua vida de pierrô apaixonado. Combinaram de apresentar os pais, acabado o Carnaval; o romance estava em contínua evolução.

          - Pode chamá-los de Betão e Vivi. - ele recomendou.

          Ela lembrou-se do nome dos pais dele, vizinhos do bairro, seu Roberto e dona Vilma, que conhecia de vista. Chegando em casa, avisou aos pais que, no próximo fim de semana, iriam conhecê-lo. O quesito família conta ponto nos relacionamentos.

          Último dia, terça-feira, é hoje só, amanhã não tem mais! Tomada por um amor de encher os olhos, concordou em ir a um motel ( na Barra da Tijuca, óbvio! ) com ele, depois da folia. Usou com os pais a famosa alegoria de moça de família, dizendo que iria dormir na casa de uma amiga que não tinha telefone. Uma transa maravilhosa, os olhos fechados de prazer. Ele foi um exímio mestre-sala, conduzindo com ritmo e maestria, a porta-estandarte pela cadência do amor.

          Quando terminaram, a quarta-feira já raiava e, para eles, nada tinha de cinza, só a luminosidade de paetês e cetim. Soltando-se dos abraços, ela abriu os olhos e olhou para ele, que estava bem perto. Era alto, louro, mas não era bonito nem tinha olhos verdes. Não era o Beto!!! Aproveitou que ele foi ao banheiro, abriu a carteira dele e lá estava: ALBERTO; filiação: Alberto e Vitória. O Beto que ela pensou enxergar chamava-se ROBERTO.

          Sentou-se na cama, olhando para o teto espelhado. Refletiu sobre tudo que aconteceu, o enredo que a envolvia e concluiu a sua moral da história: se o amor é cego ( míope ), quem ama o feio ( de óculos ), bonito lhe parece ( sem óculos ).

          Guardou os óculos e foi feliz para sempre. Por muitos Carnavais. Com o Beto ( ALBERTO ).

2 comentários:

  1. Oi, Regina querida, demorei mas cheguei !!!
    E acabei de ler o conto pós carnaval . Que enredo mais meigo. ADOREI !
    Fica uma lição fantástica: o importante na vida é SER FELIZ !!!
    E como é simples ser feliz !!!
    Obrigada por mais um momento de leitura .
    Vc tem mesmo talento .
    Beijos,
    Andresa.

    ResponderExcluir
  2. Amor de carnaval! E foram felizes para sempre!? Não se sabe!Mas, talvez ela tenha sido mais feliz do que se tivesse sido com o Beto dos seus sonhos!Texto muito bom. Abraços!

    ResponderExcluir