quarta-feira, 20 de julho de 2011

CARIOQUICE , ESSA DOENÇA PEGA

( Cidade do Rio de Janeiro: as qualidades são muitas e os defeitos também. Mas ser CARIOCA, nascido ou residente, é ser contaminado por uma virose, que não larga mais. )

          Nascido e criado no Rio de Janeiro, apesar de viver confinado num apartamento de classe média do Méier, um subúrbio da cidade, Zé era o típico carioca.

          Mexia com as moças que passavam na calçada, com a mentalidade de um Vinícius de Moraes: "As muito feias que me desculpem, mas beleza é fundamental.".  Se fossem bonitas, dizia "Gostosa!" ; para as menos favorecidas, gritava "Mocreia!". Por influência da família (o casal, Antônio e Marília, e os filhos, Lucas e Isabel), torcia pelo Vasco da Gama, com alma de Bacalhau. Gritava GOL!!! e debochava dos outros times, em dias de vitória, mas se escondia para não aguentar a gozação, na hora da derrota. Quando sentia o cheiro que vinha da churrascaria próxima, pedia:

          - Oba! Churrasco, cerveja!

          Sabia todos os palavrões e xingava as crianças, que, aliás, adoravam revidar, sem ter de ouvir a bronca das mães. Provocava um bêbado, um coitado que vivia na rua:

          - Ô, cachaceiro!

          E o melhor é que o infeliz respondia:

          - Vai cair daí, rapaz! Ic...

          Até ladrão ele já havia enfrentado, lá do alto:

          - Pega! Pega! - e o cara fugiu batido.

          Conhecia a cidade só de ouvir o que a família e o pessoal da rua contavam: praia, lagoa, escola, shopping, museu, Maracanã, igreja, e, também, sobre favela, rua esburacada, acidente, golpe do telefone, bala perdida. Mas, qualquer que fosse o lado do Rio de Janeiro descrito, cantava "Cidade Maravilhosa" de cor e salteado, que aprendeu com Marlene, a empregada.

          Um dia, reparou que a árvore defronte ao prédio havia crescido tanto, que já batia na janela. Começou a subir entre seus galhos e viu que não estava preso. Era a chance de ir embora, conhecer outras pessoas e outros lugares. Bater asas e voar. Mas sentiu um peso que não o deixava partir. Devia ser a corrente com que o mantinham no cativeiro. Olhou e viu que não havia corrente alguma. Os elos que o prendiam eram a família, a comidinha na mão da Marlene, o Vasco, a churrascaria, a cidade que ele conhecia tão bem.

          Desceu cuidadosamente e acomodou-se na varanda do apartamento. A corrente que o prendia estava lá, mas sentiu uma leveza tão grande, um aconchego tão bom, que disparou:

          - Marília, Antônio, churrasco, gostosa, Lucas, cachaceiro, Isabel, Vasco, pega, pega, Marlene, cerveja, vão tomar no c... !!!

          A família se entreolhou e Antônio falou por todos:

          - Esse papagaio ficou maluco... Fica quieto, Zé!

          Depois de tudo que aconteceu, não podia aceitar apenas isso: Zé. Zé Ninguém? Do alto do seu poleiro, afirmou orgulhosamente:

          - Meu nome é Zé Carioca!

5 comentários:

  1. REgina, que beleza esse Conto do Zé ! Ser carioca é isso mesmo, quem é não quer deixar de ser e quem não é dava tudo prá ser.
    Pq o carioca sabe viver a vida, sempre encontra um lado bom em todas as situações, ri de tudo e de nada. Ser CARIOCA é tudo !!!
    Boa semana, querida !
    Beijinhos da sua fã anônima ,Andresa.

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  2. Adorei o conto Regina! Modo muito gostoso de descrever a alma carioca.
    Neuza, da praia

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  3. O carioca é tudo isso, irreverente, gentil, ousado, e apesar de todas as dificuldades e desafios curte muito a sua cidade.
    Abraços,
    Fátima

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  4. Delícia de conto Regininha!Carioca é tudo isso q vc descreveu,não é merrrmo?! Beijos amiga! Lúcia

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  5. Levei um tempo para ler.
    Guardei para um momento de concentração.
    Optei por uma fila de banco, onde não "bato papo" com ninguém.
    Hora de leitura.
    Diverti me com a fluidez do texto.
    Gostei e... tornei me seu seguidor.
    Obrigado pelo presente.
    Abs, Zézinho.

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